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sábado, 15 de junho de 2013

A Lande e a Abóbora (Jean de La Fontaine)

Traduzido por: Barão de Paranapiacaba


Deus bem sabe o que faz. Escusa procurar
As provas desse acerto; a abóbora as vai dar.
Viu este fruto um lorpa e, estando a contemplá-lo,
E achando-o muito grande e mui delgado o talo,
"Em que pensava (disse) o autor desta invenção,
Que da abóbora fez tão má coleção?
Se fosse cá por mim, não tinha mais trabalho
Que fazê-la pender daquele alto carvalho.
Por Deus, que isto calhava; em árvore tão grande
Assenta fruto assim e não mesquinha lande.
- Que pena, João, não teres figurado
Na assembleia do Deus, do cura apregoado?
Tudo ficaria então melhor distribuído:
O fruto, que ao carvalho eu vejo suspendido,
E ao meu dedo meiminho iguala na gostosura,
Pousara, em lugar dela, ao rente da planura:
Deus se enganou, decerto. E quanto mais medito
Na má colocação dos frutos, que hei descrito,
Mais me parece nisto equívoco existir".
Com estas reflexões, privado de dormir,
O nosso camponês provara o dito certo:
"Quem muito engenho tem, conserva-se desperto,
"Porque lhe foge o sono". - Entanto, à fresca sombra
Deita-se de um carvalho em mole e verde alfombra.
Magoa-lhe o nariz lande, que se desapega:
Desperta em confusão; com as mãos o rosto esfrega;
Na barba o fruto achou. Com dores do nariz:
"Oá! Pois não sangrou! Se fosse mais pesada
A massa que tombou, que tal fora a pancada!
Se uma abóbora fosse em vez desta frutinha,
Ficara em fresco estado a pobre face minha!
Tal não aprove a Deus! Pois, sábio e onipotente,
Para assim proceder, motivo houve excelente".
E, graças dando ao céu por tudo quanto fez,
A casa recolheu-se em paz o camponês!

Referências:

PARANAPIACABA, Barão. A Lande e a Abóbora. Tradução. Fábula. In: LA FONTAINE, Jean de, 1621-1695. Fábulas: antologia / La Fontaine. - 4. ed. - São Paulo: Martin Claret, 2012.

Extraído do livro:

LA FONTAINE, Jean de, 1621-1695. Fábulas: antologia / La Fontaine. - 4. ed. - São Paulo: Martin Claret, 2012. - (Coleção a obra-prima de cada autor; 200)

quinta-feira, 30 de maio de 2013

A cigarra e a Formiga (Jean de La Fontaine)

Traduzido por: Bocage

Tendo a cigarra em cantigas
Folgado em todo o verão
Achou-se em penúria extrema
Na tormentosa estação.

Não lhe restando migalha
Que trincasse, a tagarela
Foi valer-se da formiga
Que morava perto dela.

Rogou-lhe que lhe emprestasse,
Pois tinha riqueza e brio,
Algum grão com que manter-se
Té voltar o aceso estio.

"Amiga, - diz a cigarra -
Prometo, à fé d'animal,
Pagar-vos antes de agosto
Os juros e o principal."

A formiga nunca empresta,
Nunca dá, por isso junta:
"No verão em que lidavas?"
À pedinte ela pergunta.

Responde a outra: "Eu cantava
Noite e dia, a toda hora.
-Oh! Bravo!, torna a formiga:
Cantavas? Pois dança agora!"

Referências:

BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du. A cigarra e a Formiga. Tradução. Fábula. In: LA FONTAINE, Jean de, 1621-1695. Fábulas: antologia / La Fontaine. - 4. ed. - São Paulo: Martin Claret, 2012.

Extraído do livro:

LA FONTAINE, Jean de, 1621-1695. Fábulas: antologia / La Fontaine. - 4. ed. - São Paulo: Martin Claret, 2012. - (Coleção a obra-prima de cada autor; 200)

O menino e o mestre-escola (Jean de La Fontaine)

Traduzido por: Barão de Paranapiacaba

Tenho em vista zurzir na minha história
Todo o pedante, autor de vão discurso,
Que ralhando, não vale a quem se afoga,
              À mingua de recurso.

Rapaz travesso, doidejando às soltas,
Perto da margem de empolado rio
Tais cabriolas fez que, ao fim de contas,
              Dentro d'água caiu.

Quis o céu que no sítio do sinistro
Vegetasse, a propósito, um salgueiro,
A que, abaixo de Deus, savar a vida
              Deveu o calaceiro.

Passava por ali um mestre-escola;
E o rapaz a gritar: "Senhor, socorro!
Acudi-me, por Deus, que o ramo estala,
              E, em se quebrando, eu morro".

Ouvindo este clamor, o pedagogo,
Sem notar ser imprópria a ocasião,
Dirige ao pobre, prestes a afogar-se,
              Este longo sermão:

"Vede a que ponto chega a travessura!
Vão lá matar-se por traquinas tais!
Como é difícil tomar conta deles!
              Oh! Desgraçados pais!

Quanto à família e aos mestres envergonham!
Que sustos causam! Que profunda mágoa!"
Tendo assim esgotado o palanfrório,
              Tira o menino d'água.

Gente, em que não pensais, aqui se abrange;
Pedantes, tagarelas, censores,
Entram no quadro, que esboçado fica
              Com verdadeiras cores.

Faz grande turma cada classe dessas,
- Raça, da Providência abençoada,
Que em tudo busca exercitar, sem peias,
              Sua língua afiada. -

Mas ouve, amigo meu: Se em transes luto
Vem primeiro livrar-me do embrechado;
Deita arenga depois e a gosto exaure
              O teu palavreado.

Referências:

PARANAPIACABA, Barão. O menino e o mestre-escola. Tradução. Fábula. In: LA FONTAINE, Jean de, 1621-1695. Fábulas: antologia / La Fontaine. - 4. ed. - São Paulo: Martin Claret, 2012.

Extraído do livro:

LA FONTAINE, Jean de, 1621-1695. Fábulas: antologia / La Fontaine. - 4. ed. - São Paulo: Martin Claret, 2012. - (Coleção a obra-prima de cada autor; 200)