Traduzido por: Barão de Paranapiacaba
Tenho em vista zurzir na minha história
Todo o pedante, autor de vão discurso,
Que ralhando, não vale a quem se afoga,
À mingua de recurso.
Rapaz travesso, doidejando às soltas,
Perto da margem de empolado rio
Tais cabriolas fez que, ao fim de contas,
Dentro d'água caiu.
Quis o céu que no sítio do sinistro
Vegetasse, a propósito, um salgueiro,
A que, abaixo de Deus, savar a vida
Deveu o calaceiro.
Passava por ali um mestre-escola;
E o rapaz a gritar: "Senhor, socorro!
Acudi-me, por Deus, que o ramo estala,
E, em se quebrando, eu morro".
Ouvindo este clamor, o pedagogo,
Sem notar ser imprópria a ocasião,
Dirige ao pobre, prestes a afogar-se,
Este longo sermão:
"Vede a que ponto chega a travessura!
Vão lá matar-se por traquinas tais!
Como é difícil tomar conta deles!
Oh! Desgraçados pais!
Quanto à família e aos mestres envergonham!
Que sustos causam! Que profunda mágoa!"
Tendo assim esgotado o palanfrório,
Tira o menino d'água.
Gente, em que não pensais, aqui se abrange;
Pedantes, tagarelas, censores,
Entram no quadro, que esboçado fica
Com verdadeiras cores.
Faz grande turma cada classe dessas,
- Raça, da Providência abençoada,
Que em tudo busca exercitar, sem peias,
Sua língua afiada. -
Mas ouve, amigo meu: Se em transes luto
Vem primeiro livrar-me do embrechado;
Deita arenga depois e a gosto exaure
O teu palavreado.
Referências:
PARANAPIACABA, Barão. O menino e o mestre-escola. Tradução. Fábula. In: LA FONTAINE, Jean de, 1621-1695. Fábulas: antologia / La Fontaine. - 4. ed. - São Paulo: Martin Claret, 2012.
Extraído do livro:
LA FONTAINE, Jean de, 1621-1695. Fábulas: antologia / La Fontaine. - 4. ed. - São Paulo: Martin Claret, 2012. - (Coleção a obra-prima de cada autor; 200)
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