quarta-feira, 2 de julho de 2014

SAUDADE

Saudade, um sentimento forte, límpido e intenso
De ares plácidos, que enveredam por nosso eu
Na falta do outro, de algo, do sentir
Sentimos uma ausência, mas o sentir no peito
De tão especial, por alguém que nos marcou,
Por alguém que vive, que gostamos,
Aprendemos à sonhar, estando com tal,
Feliz por vê-lo, com saudade para revê-lo,
Sentir o toque, curtir seu olhar,
Matar essa saudade, ao sentir e ver passar.

Ao olhar, lembrar, sentir, sonhar contigo
Eis que nosso coração acelera, e a aflição nos toma
As correntes que nos prendem se quebram, caem
E essa aflição cessa, desaparece, como um vento à passar
Um sentimento no ar, de saudade, nos torna vivos,
Sabendo que um dia iremos nos encontrar, quem sabe,
Em algum dia, em algum lugar, sei que estás bem,
Sei que estás aí, assim à me olhar, sentindo algo que especial
Que como chama aquece, que como um bálsamo perfuma,
Como à água que corre, num rio sem fim, com uma emoção no ar.

ALESSANDRO DE OLIVEIRA ARANTES

sábado, 10 de maio de 2014

UM OLHAR

Um silêncio
Um algo que nos inquieta
Um rastro de sentimento
Um tom no ar.

O Silêncio que nos rodeia
Presente e nos rodeia,
No ar sideral
No corpo espacial.

De sutileza bela,
Tranquila e que nos amedronta,
O símbolo de sossego e paz,
Que necessitamos para nos acalmar.

Como a luz que arde,
Como o som que é neutro,
Um ar de feixes
Ao mais fundo silenciar.

De tez tenebrosa,
Sutil, fria e sólida,
O medo de silenciar
E ficar oculto.

Nosso inconsciente nos mostra
Quando nos silenciamos
Eis a ele se manifestar
E nos fazer sonhar.

Um ar que nos dá a paz,
Como um toque, um sentimento no ar
Ao caminhar das águas
Ao soar dos sinos das catedrais.

No falar dos sons
Silenciando marcas
Que nos fazem lembrar
Da razão de tudo.

Oculta em nosso ser
Como uma chama que queima,
Uma energia vital e plena
Sentindo o princípio da vida

À luz, no oculto de nosso olhar
Janelas da alma
Ao grande passo a se guiar
Ao ponto final.

ALESSANDRO DE OLIVEIRA ARANTES

RASTROS (Poesia)

Pensamentos que voam,
Imagens que ilustram,
Começo de uma era,
Daquilo que é e será,
Num repouso de vida,
Solenemente à luz ilumina,
Serena e plena,
Alba luminosa,
Assim vem nos tocar.

Laços da perdição,
Cristais do ego,
Sonhos azúreos,
Resplandescer de ilusão,
Como assim se comporta,
A mais sincera canção,
O despertar de um ser,
Desejos, ares e vozes,
Num cantarolar de pássaros.

Num abismo de rosas,
Sinto um ar doce,
Sereno e úmido,
De toques suaves,
Sons leves e áridos,
No começo de uma canção,
Que diz o poeta,
Sereis à luz do mundo moderno,
Sereis um dom nessa dimensão.

Ao cantarolar das folhas,
Das perdizes esvoaçantes,
De alvorar belo,
Cânticos serenos,
És assim, uma casa,
Uma árvore e um doce lar,
Leveza e serenidade,
Ao simples despertar,
De uma nova manhã.

ALESSANDRO DE OLIVEIRA ARANTES

domingo, 20 de abril de 2014

O avarento que perdeu o tesouro

Se a posse consiste somente no gozo,
Ó vós que nos cofres dinheiro guardais,
Dizei que vantagens gozais sobre a Terra,
Que sejam vedadas aos outros mortais?

Diógenes no outro mundo
É mais rico de que vós,
Que neste, como o Sinópio,
Lidais em miséria atroz.

O rico de Esopo, que esconde o tesouro,
Exemplo no assunto nos pode prestar;
O triste supunha segunda existência
E nela esperava seus bens desfrutar.

Não possuía seu ouro;
O ouro é que o possuía.
Tinha ao solo confiado
Considerável maquia.

Só tinha por fito, prazer e recreio
Pensar, dia e noite, na soma enterrada.
E assim ruminando, só viu na riqueza
Relíquia, a si próprio defesa e vedada.

Indo, voltando, correndo,
Trazia sempre o sentido
No lugar, em que deixara
O seu tesouro escondido.

Mas dando mil voltas em torno do sítio,
Um dia foi visto por certo coveiro,
Que assim surpreendendo do fona o segredo,
No chão cavoucando, roubou-lhe o dinheiro.

Nosso avaro em certo dia
Vazia a cova encontrou;
Gemeu, suspirou, carpiu-se
E em pranto se debulhou.

Um, que passa, pergunta o motivo
Dessa grita. O avarento responde:
"— Ai! Roubaram meu rico tesouro!"
"— Um tesouro roubado! Mas donde?"


AVARENTO
"Era junto desta pedra."


TRANSEUNTE
"Por que escondê-lo na terra?
Por que trazê-lo tão longe,
Não sendo tempo de guerra?

Não era mais fácil guardá-lo no armário,
Num canto seguro de vosso aposento?
Assim poderíeis à mão conservá-lo,
Tirando-o em parcelas a cada momento."


AVARENTO
"A cada momento! Oh deuses!
Que temerária asserção!
Vem, como vai, o dinheiro?
Eu nunca lhe ponho a mão."

"Se assim sucedia (replica o sujeito)
Dizei-me, eu vos peço. por que vos carpis?
Se nunca tocáveis naquele dinheiro,
Não sei em que a perda vos torne infeliz.

Ponde uma pedra na cova
Que vos guardava o tesouro;
Será para vós o mesmo
Que um montão de prata ou ouro."

Referências:

PARANAPIACABA, Barão. O avarento que perdeu o tesouro. Tradução. Fábula. In: LA FONTAINE, Jean de, 1621-1695. Fábulas: antologia / La Fontaine. - 4. ed. - São Paulo: Martin Claret, 2012.

Extraído do livro:

LA FONTAINE, Jean de, 1621-1695. Fábulas: antologia / La Fontaine. - 4. ed. - São Paulo: Martin Claret, 2012. - (Coleção a obra-prima de cada autor; 200)

domingo, 6 de abril de 2014

O código morse e seu criador

O Código Morse foi inventado por Samuel Morse, que já em 1832 tinha construído um pequeno protótipo do telégrafo. Mas foi em 1838 que desenvolve o descobrimento nos interessa hoje; o código morse, um sistema de pontos e traços que serviu para comunicar através do som. Estas duas invenções combinadas por Samuel Morse, rendeu uma gran
de fortuna, com a qual comprou grandes propriedades e também fez algumas doações para as universidades e instituições de caridade.

No inicio para transmitir e receber mensagens em código Morse foi utilizado um dispositivo primitivo inventado em 1844 por Samuel Morse. Este aparelho consistia de uma chave de transmissão telegráfica, que serviu como um interruptor e de um eletroímã como um receptor de pontos e traços.

Cada vez que a tecla é pressionada para baixo com o dedos indicador e médio, se estabelecia contato elétrico que permitia transmitir os pontos do código. Os pulsos intermitentes que produziam ao apertar a chave telegráfica eram enviado para uma linha elétrica composta por dois fios de cobre. Estes cabos apoiados por estacas de madeira, se estendia por centenas de quilômetros de distância do ponto de origem da transmissão até ponto de recepção.

Quando em 1860 Napoleão III concedeu um justo prêmio de reconhecimento por sua invenção, nos Estados Unidos e na Europa já haviam numerosas instalação do código morse. Quando morreu, o continente americano estava cruzado por mais de 300 mil quilômetros de linhas.

Com a invenção do transmissor de base de ondas de rádio feita por Marconi, a partir do ano 1901, a transmissão de mensagens por telégrafo foi iniciada através de Wi-Fi, adaptando o mesmo sistema inventado por Morse. Esta nova forma de transmissão teve a vantagem de que não era necessário cabo e corre longas distâncias, de forma que os navios adotaram esta nova tecnologia para comunicar entre eles e com a terra.


BULHUFAS. Quem inventou o código morse e seu criador. Quem inventou. Artigo. [Blog]. Brasil: Bulfufas.com, 2011. Disponível em: http://www.bulhufas.com/quem-inventou/o-codigo-morse-e-seu-criador/ Acesso em: 06/04/2014.

ILUSÃO

Uma música,
Um leve brilho nesse luar,
Nessa escuridão da noite,
Que faz silenciar,
às luzes atenuar,
Ao som tênue dos grilos,
Dos sonhos, razões e sentimentos,
O mergulhar em nosso eu,
De travessões e pontos,
Traçando as vozes,
De polifonias ecoais,
Num mistério plúmbeo,
No alvorescer de uma ilusão.

Alessandro Arantes

quinta-feira, 6 de março de 2014

Será o Benedito! - Mário de Andrade

A primeira vez que me encontrei com Benedito, foi no dia mesmo da minha chegada na Fazenda Larga, que tirava o nome das suas enormes pastagens. O negrinho era quase só pernas, nos seus treze anos de carreiras livres pelo campo, e enquanto eu conversava com os campeiros, ficara ali, de lado, imóvel, me olhando com admiração. Achando graça nele, de repente o encarei fixamente, voltando-me para o lado em que ele se guardava do excesso de minha presença. Isso, Benedito estremeceu, ainda quis me olhar, mas não pôde agüentar a comoção. Mistura de malícia e de entusiasmo no olhar, ainda levou a mão à boca, na esperança talvez de esconder as palavras que lhe escapavam sem querer:

— O hôme da cidade, chi!...

Deu uma risada quase histérica, estalada insopitavelmente dos seus sonhos insatisfeitos, desatou a correr pelo caminho, macaco-aranha, num mexe-mexe aflito de pernas, seis, oito pernas, nem sei quantas, até desaparecer por detrás das mangueiras grossas do pomar.

***

Nos primeiros dias Benedito fugiu de mim. Só lá pelas horas da tarde, quando eu me deixava ficar na varanda da casa-grande, gozando essa tristeza sem motivo das nossas tardes paulistas, o negrinho trepava na cerca do mangueirão que defrontava o terraço, uns trinta passos além, e ficava, só pernas, me olhando sempre, decorando os meus gestos, às vezes sorrindo para mim. Uma feita, em que eu me esforçava por prender a rédea do meu cavalo numa das argolas do mangueirão com o laço tradicional, o negrinho saiu não sei de onde, me olhou nas minhas ignorâncias de praceano, e não se conteve:

— Mas será o Benedito! Não é assim, moço!

Pegou na rédea e deu o laço com uma presteza serelepe. Depois me olhou irônico e superior. Pedi para ele me ensinar o laço, fabriquei um desajeitamento muito grande, e assim principiou uma camaradagem que durou meu mês de férias.

***

Pouco aprendi com o Benedito, embora ele fosse muito sabido das coisas rurais. O que guardei mais dele foi essa curiosa exclamação, "Será o Benedito!", com que ele arrematava todas as suas surpresas diante do que eu lhe contava da cidade. Porque o negrinho não me deixava aprender com ele, ele é que aprendia comigo todas as coisas da cidade, a cidade que era a única obsessão da sua vida. Tamanho entusiasmo, tamanho ardor ele punha em devorar meus contos, que às vezes eu me surpreendia exagerando um bocado, para não dizer que mentindo. Então eu me envergonhava de mim, voltava às mais
perfeitas realidades, e metia a boca na cidade, mostrava o quanto ela era ruim e devorava os homens. "Qual, Benedito, a cidade não presta, não. E depois tem a tuberculose que..."

— O que é isso?...

- É uma doença, Benedito, uma doença horrível, que vai comendo o peito da gente por dentro, a gente não pode mais respirar e morre em três tempos.

— Será o Benedito...

E ele recuava um pouco, talvez imaginando que eu fosse a própria tuberculose que o ia matar. Mas logo se esquecia da tuberculose, só alguns minutos de mutismo e melancolia, e voltava a perguntar coisas sobre os arranha-céus, os "chauffeurs" (queria ser "chauffeur"...), os cantores de rádio (queria ser cantor de rádio...), e o presidente da República (não sei se queria ser presidente da República). Em troca disso, Benedito me mostrava os dentes do seu riso extasiado, uns dentes escandalosos, grandes e perfeitos, onde as violentas nuvens de setembro se refletiam, numa brancura sem par.

Nas vésperas de minha partida, Benedito veio numa corrida e me pôs nas mãos um chumaço de papéis velhos. Eram cartões postais usados, recortes de jornais, tudo fotografias de São Paulo e do Rio, que ele colecionava. Pela sujeira e amassado em que estavam, era fácil perceber que aquelas imagens eram a única Bíblia, a exclusiva cartilha do negrinho. Então ele me pediu que o levasse comigo para a enorme cidade. Lembrei-lhe os pais, não se amolou; lembrei-lhe as brincadeiras livres da roça, não se amolou; lembrei-lhe a tuberculose, ficou muito sério. Ele que reparasse, era forte mas magrinho e a tuberculose se metia principalmente com os meninos magrinhos. Ele precisava ficar no campo, que assim a tuberculose não o mataria. Benedito pensou, pensou. Murmurou muito baixinho:

— Morrer não quero, não sinhô... Eu fico.

E seus olhos enevoados numa profunda melancolia se estenderam pelo plano aberto dos pastos, foram dizer um adeus à cidade invisível, lá longe, com seus "chauffeurs", seus cantores de rádio, e o presidente da República. Desistiu da cidade e eu parti. Uns quinze dias depois, na obrigatória carta de resposta à minha obrigatória carta de agradecimentos, o dono da fazenda me contava que Benedito tinha morrido de um coice de burro bravo que o pegara pela nuca. Não pude me conter: "Mas será o Benedito!...”.  E é o remorso comovido que me faz celebrá-lo aqui.

São Paulo, 2ª. quinzena de outubro de 1939. (n°145)

ANDRADE, Mário de. Será o Benedito!. In: Será o Benedito!. Livro. São Paulo: Editora da PUC-SP, Editora Giordano Ltda. e Agência Estado Ltda.- São Paulo, 1992, pág. 66. Disponível em: <http://www.releituras.com/marioandrade_menu.asp> Acesso em: 06/03/2014. Labore citattum apud: © NOGUEIRA JR, Arnaldo. Projeto Releituras. São Paulo, 2014.

Referência da imagem: http://editora.cosacnaify.com.br/blog/wp-content/uploads/2012/06/ODILON.jpg

terça-feira, 4 de março de 2014

Televisão: um invento que dura até nossos dias

Em 26 de janeiro de 1926, John Logie Baird foi capaz de fazer a primeira emissão televisiva desde seu laboratório em Londres supervisionados pelos membros da Royal Institution e um jornalista britânico. As imagens que puderam ser vistas em uma televisão consistiu de uma gravação feita ao rosto de um manequim.
Anteriormente, em 25 de março de 1925, Baird tinha emitido uma imagem televisiva, no Departamento da loja Selfridges, em Londres. No entanto, como era uma imagem estática, não se considerou como uma retransmissão televisada.

A televisão, invenção de Baird, pode desenvolver graças aos avances anteriores como o disco de Nipkow, patenteado em 1884 pelo estudante alemão Paul Nipkow. Este disco, foi o primeiro sistema de televisão eletromecânica capaz de produzir uma imagem através de pequenos orifícios.


Em 1911, Boris Rosing e seu aluno Vladimir Kosma Zworykin, criaram outro sistema de televisão que realizava a digitalização de uma imagem por um espelho-tambor e transmitia através de um receptor com um tubo eletrônico de raios catódicos Braun

Ao contrário de outros sistemas eletrônicos, a imagem obtida por Baird em 1926, foi digitalizado verticalmente por um disco equipado com uma dupla-espiral de lentes que só tinham apenas 30 linhas, o suficiente para reproduzir um rosto humano reconhecível. Um ano depois de seu sucesso, Baird transmitiu um sinal de Londres para Glasgow, através de uma linha telefônica.

Em 1928, a empresa de Baird, Baird Television Development Company, ganhou o primeiro sinal de televisão transatlântica entre Londres e Nova York.

BULHUFAS, Televisão: um invento que dura até nossos dias. In: Quem inventou. [Artigo]. Blog. .Brasil: Bulhufas.com, 2011. 

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Os inventores do avião, fracassos e conquistas

O homem tentou desde os tempos antigos imitar o vôo dos pássaros e finalmente conseguiram graças o avião. No princípio pensavam que bastava ter asas e criou máquinas que chamava ornithopters. Durante séculos houve tímidas tentativas de voar, fracassando total na maioria deles, mas desde o século XVIII o homem começou a experimentar com os balões que foram capazes de se elevar no ar, mas tinha a desvantagem de não serem controlados.

Segundo as crónicas do século XVIII, o primeiro vôo bem sucedido de um balão de ar quente, foi graças ao Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão. Um Português nascido no Brasil na época colonial que conseguiu levantar vôo em um balão, que chamaria Passarola, em 08 de agosto de 1709 na corte de D. João V de Portugal, em Lisboa. Na demonstração, a Passarola subiu cerca de 3 metros acima do solo, deixando os observadores impressionado, e ganhando o apelido de Padre Volador.



Com a invenção do balão dirigível, os inventores começaram a tentar criar uma máquina mais pesada que o ar, era capaz de voar por meios próprios. Primeiro vieram os planadores, máquinas capazes de sustentar vôo controlado por algum tempo. Em 1799, George Cayley, um inventor Inglês, desenhou um planador relativamente moderno, que tinha uma cauda para controle, e um lugar onde o piloto pode ser posicionado abaixo do centro de gravidade do aparelho, dando assim estabilidade à aeronave. Cayley construiu um protótipo, que realizou seu primeiro vôo não-tripulado em 1804.

No século XIX, foram feitas tentativas de produzir um avião decolando por seus próprios meios. Mas a maioria deles eram de má qualidade, construídos por pessoas interessadas em aviação. Mas nenhum tinha os conhecimento dos problemas que solucionaram Lilienthal e Chanute.



Foram os irmão Wilbur e Orville Wright, que conseguiram desenvolver o primeiro avião no início do século XX, ou seja, o primeiro avião funcional, como esboços de sonhadores já existiam antes na história, como os de Leonardo da Vinci. Essa façanha foi realizada em 17 de dezembro de 1903. O avião se chamou Flyer. Então Kitty Hawk (Carolina do Norte), uma vez que naquela cidade fez o primeiro vôo. Então, mais tarde passou a desenvolver duas outras aeronaves, que foram batizadas como Flyer Flyer II e III.


Fundamentalmente, as mais modernas aeronaves de hoje seguem sendo construídas com base nos mesmos elementos que permitiram que os irmãos Wright e de Alberto Santos Dumont realizassem o primeiro voo no início do século XX: as asas que suportam o peso da aeronave e sua carga, as superfícies de cauda que servem para dar equilíbrio e direção. Usando controles apropriados, conseguimos variar a posição de algumas superfícies para que o avião suba, abaixe ou vire de um lado para outro.

Referências:

BULHUFAS, Blogue. Os inventores do avião, fracassos e conquistas. In: Quem Inventou. Artigo. Blog. Bulhufas.com, 2011.

Imagens: Google Images.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Vícios de linguagem

A gramática é um conjunto de regras que estabelece um determinado uso da língua, denominado norma culta ou língua padrão. Acontece que as normas estabelecidas pela gramática normativa nem sempre são obedecidas, em se tratando da linguagem escrita.  O ato de desviar-se da norma padrão no intuito de alcançar uma maior expressividade, refere-se às figuras de linguagem. Quando o desvio se dá pelo não conhecimento da norma culta, temos os chamados vícios de linguagem.


a) barbarismo: consiste em grafar ou pronunciar uma palavra em desacordo com a norma culta.
pesquiza (em vez de pesquisa)
prototipo (em vez de protótipo)


b) solecismo: consiste em desviar-se da norma culta na construção sintática.
Fazem dois meses que ele não aparece. (em vez de faz ; desvio na sintaxe de concordância)


c) ambiguidade ou anfibologia: trata-se de construir a frase de um modo tal que ela apresente mais de um sentido.
O guarda deteve o suspeito em sua casa. (na casa de quem: do guarda ou do suspeito?)


d) cacófato: consiste no mau som produzido pela junção de palavras.
Paguei cinco mil reais por cada.



e) pleonasmo vicioso:  consiste na repetição desnecessária de uma ideia.
O pai ordenou que a menina entrasse para dentro imediatamente.
Observação: Quando o uso do pleonasmo se dá de modo enfático, este não é considerado vicioso.



f) eco: trata-se da repetição de palavras terminadas pelo mesmo som.
O menino repetente mente alegremente.

CABRAL, Marina. Vícios de Linguagem. Gramática. Língua Portuguesa. Equipe Brasil Escola, 2012.

Expressões idiomáticas

Conceituam-se como expressões idiomáticas aquelas que, perante os estudos linguísticos, são destituídas de tradução. Pode considerar-se que fazem parte daquilo que chamamos de variações da língua, uma vez que retratam traços culturais de uma determinada região. Dotadas de um evidente grau de informalismo são geradas por meio das gírias e tendem a se perpetuar ao longo de toda uma geração.

Desta forma, ao analisarmos as imagens que seguem constatamos que estas nos remetem a dizeres já bastante conhecidos e até “cristalizados” no tempo. Observemos, pois: 

Assim, já ouvimos muitas que “fulano engoliu um sapo”, ou que “fulano pisou na bola”. Estas, assim como tantas outras revelam um discurso específico, uma vez que “engolir um sapo” significa receber uma “bronca” e “pisar na bola” revela uma atitude considerada inaceitável”. 

No intuito de aprofundarmos ainda mais nossos conhecimentos no que tange a este assunto, analisemos alguns casos representativos:

Armar um barraco – criar uma confusão em público.
Ao pé da letra – literalmente. 
Arregaçar as mangas – dar início a uma determinada atividade.
Bater as botas – falecer.
Boca de siri – manter um segredo referente a um determinado assunto.
Cara de pau – descarado, sem-vergonha.
Chutar o balde/chutar o pau da barraca – perder o controle, a calma. 
Descascar o abacaxi – resolver um problema complicado. 
Encher linguiça – enrolar, ocupar o tempo por meio da embromação.
Lavar as mãos – não se envolver com um determinado assunto.
Pé na jaca – cometer excessos (enfiar o pé na jaca). 
Quebrar o galho – improvisar. 
Segurar vela – atrapalhar o namoro. 
Trocar as bolas – atrapalhar-se. 
Trocar os pés pelas mãos - agir de modo desajeitado, apressadamente.

DUARTE, Vânia. Expressões idiomáticas. Gramática. Língua Portuguesa. Equipe Brasil Escola, 2012.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O Homem Nú - Fernando Sabino

Ao acordar, disse para a mulher:

— Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o sujeito com a conta, na certa.  Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum.

— Explique isso ao homem — ponderou a mulher.

— Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém.   Deixa ele bater até cansar — amanhã eu pago.

Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão.  Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.

Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos:

— Maria! Abre aí, Maria. Sou eu — chamou, em voz baixa.

Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro.

Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente os andares...  Desta vez, era o homem da televisão!

Não era. Refugiado no lanço da escada entre os andares, esperou que o elevador passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mãos nervosas o embrulho de pão:

— Maria, por favor! Sou eu!

Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares, vindos lá de baixo... Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embrulho na mão, parecia executar um ballet grotesco e mal ensaiado. Os passos na escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o elevador, apertou o botão. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a empregada passava, vagarosa, encetando a subida de mais um lanço de escada. Ele respirou aliviado, enxugando o suor da testa com o embrulho do pão.

Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele começa a descer.

— Ah, isso é que não!  — fez o homem nu, sobressaltado.

E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em pêlo, podia mesmo ser algum vizinho conhecido... Percebeu, desorientado, que estava sendo levado cada vez para mais longe de seu apartamento, começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autêntico e desvairado Regime do Terror!

— Isso é que não — repetiu, furioso.

Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares, obrigando-o a parar.  Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar o botão do seu andar. Lá embaixo continuavam a chamar o elevador.  Antes de mais nada: "Emergência: parar". Muito bem. E agora? Iria subir ou descer?  Com cautela desligou a parada de emergência, largou a porta, enquanto insistia em fazer o elevador subir. O elevador subiu.

— Maria! Abre esta porta! — gritava, desta vez esmurrando a porta, já sem nenhuma cautela. Ouviu que outra porta se abria atrás de si.

Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no batente e tentando inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era a velha do apartamento vizinho:

— Bom dia, minha senhora — disse ele, confuso.  — Imagine que eu...

A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um grito:

— Valha-me Deus! O padeiro está nu!

E correu ao telefone para chamar a radiopatrulha:

— Tem um homem pelado aqui na porta!

Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se passava:

— É um tarado!

— Olha, que horror!

— Não olha não! Já pra dentro, minha filha!

Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para ver o que era. Ele entrou como um foguete e vestiu-se precipitadamente, sem nem se lembrar do banho. Poucos minutos depois, restabelecida a calma lá fora, bateram na porta.

— Deve ser a polícia — disse ele, ainda ofegante, indo abrir.

Não era: era o cobrador da televisão.


SABINO, Fernando. O homem nú. Extraída do livro de mesmo nome, Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág. 65. Disponível em: <http://www.releituras.com/fsabino_homemnu.asp>

PROTESTOS ABRINDO O VERÃO (Paródia)

PROTESTOS ABRINDO O VERÃO
Autor: Alessandro de Oliveira Arantes
Paródia da música: Águas de março (Tom Jobim)

É bomba, é pedra, é o pau do caminho
É um resto de placa, é um toco caindo
É um caco de vidro, é o povo, é o sol
É a noite, é a morte, é a revolta, é o caos
É o povo do campo, é o da casa de madeira
O cara da roça, do roço, ou da urbe, que nem leão.

É madeira ao vento, é o povo na ribanceira
É a revolta profunda, quer queira ou não queira
É o vento ventando, antes do fim da ladeira
É com viga no vão, no meio da pista, festa da revolução
É a chuva chovendo, e protesto rolando
Contra o desgosto e desmandos, pedindo o fim da roubalheira

É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Bandeira na mão, pedra e atiradeira
É um avião no céu, é uma carro no chão
É o governo chegando, desfilando na frente, com seu carrão
Mesmo no fundo do poço, perto do fim do caminho
No rosto o sorriso, é um pouco disfarce

É uma máscara, é um lata, é uma ponta, é um pau
É um pingo , pingando, é a chuva chegando, e molhando
É um rio, é um grito, é um raio brilhando
Em plena luz da manhã, são os tijolos chegando
É a chapa, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada
É o projeto do estádio, é o corpo na maca
É o carro enguiçado, que inflama, inflama

É um carro, é uma ponte, é um avião, é um urubu
É um resto de cerca, na luz da manhã
São os protestos da copa abrindo o verão
Se revoltando com o governo, sendo um cidadão.

É uma bandeira, é um pau, é Paulão, é José
É uma câmera mão, é um tênis no pé
São os protestos da copa abrindo o verão
Se revoltando com o governo, sendo um cidadão.

É uma máscara, é um lata, é uma ponta, é um pau
É um pingo, é a chuva, e o esgoto estourando
É um rio, são os carros, boiando na estrada
É um passo, é uma ponte, esgoto saindo
Trilho quebrando, lixo na via,
É uma picaretagem, é uma má administração

São os protestos da copa abrindo o verão
Se revoltando com o governo, sendo um cidadão,
Correndo atrás dos direitos de um cidadão.