domingo, 23 de junho de 2013

Despedida (Rubem Braga)


E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perda da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.

Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa;
que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.

E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?

Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil. 

Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus. 

A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.


Extraído do livro "A Traição das Elegantes", Editora Sabiá – Rio de Janeiro, 1967, pág. 83.

Referências:

BRAGA, Rubem. Despedida. Crônicas de Rubem Braga. São Paulo: Pensador.Info. Portal Uol, 2012. Disponível em: Acesso em: 23/06/2013.

sábado, 15 de junho de 2013

A Lande e a Abóbora (Jean de La Fontaine)

Traduzido por: Barão de Paranapiacaba


Deus bem sabe o que faz. Escusa procurar
As provas desse acerto; a abóbora as vai dar.
Viu este fruto um lorpa e, estando a contemplá-lo,
E achando-o muito grande e mui delgado o talo,
"Em que pensava (disse) o autor desta invenção,
Que da abóbora fez tão má coleção?
Se fosse cá por mim, não tinha mais trabalho
Que fazê-la pender daquele alto carvalho.
Por Deus, que isto calhava; em árvore tão grande
Assenta fruto assim e não mesquinha lande.
- Que pena, João, não teres figurado
Na assembleia do Deus, do cura apregoado?
Tudo ficaria então melhor distribuído:
O fruto, que ao carvalho eu vejo suspendido,
E ao meu dedo meiminho iguala na gostosura,
Pousara, em lugar dela, ao rente da planura:
Deus se enganou, decerto. E quanto mais medito
Na má colocação dos frutos, que hei descrito,
Mais me parece nisto equívoco existir".
Com estas reflexões, privado de dormir,
O nosso camponês provara o dito certo:
"Quem muito engenho tem, conserva-se desperto,
"Porque lhe foge o sono". - Entanto, à fresca sombra
Deita-se de um carvalho em mole e verde alfombra.
Magoa-lhe o nariz lande, que se desapega:
Desperta em confusão; com as mãos o rosto esfrega;
Na barba o fruto achou. Com dores do nariz:
"Oá! Pois não sangrou! Se fosse mais pesada
A massa que tombou, que tal fora a pancada!
Se uma abóbora fosse em vez desta frutinha,
Ficara em fresco estado a pobre face minha!
Tal não aprove a Deus! Pois, sábio e onipotente,
Para assim proceder, motivo houve excelente".
E, graças dando ao céu por tudo quanto fez,
A casa recolheu-se em paz o camponês!

Referências:

PARANAPIACABA, Barão. A Lande e a Abóbora. Tradução. Fábula. In: LA FONTAINE, Jean de, 1621-1695. Fábulas: antologia / La Fontaine. - 4. ed. - São Paulo: Martin Claret, 2012.

Extraído do livro:

LA FONTAINE, Jean de, 1621-1695. Fábulas: antologia / La Fontaine. - 4. ed. - São Paulo: Martin Claret, 2012. - (Coleção a obra-prima de cada autor; 200)

domingo, 9 de junho de 2013

O sertão

A vida desfalece
Com a água que nos falta
Nesses dias de seca
Com o calor que aumenta
A consciência pesa
Com a secura severa.

A paciência que não aguenta
Essa longa espera
Para enverdecer as relvas
Com a tão esperada nevoada
Trazendo de volta a esperança
Com essa nova aliança.

As terras aguadas
Que orgulham e enchem os olhos
De ver a vida florida
Enfim retornada
Aos campos e pastos
Do sertão a vida renasce.


Autoria: Emanuel (aluno do 6º ano B, da Escola Estadual Monsenhor Joaquim Honório)
Adaptação: Alessandro de Oliveira Arantes (Professor de língua portuguesa)


Água da Gente (poema)

Da gente
Tem a terra
Da terra
Tem o desperdício.

Do desperdício da água doce
Azul ou transparente
Das matas e águas correntes
Que levam até os lares da gente.

Da gente
Não há nada sem água
Não há florestas, nem sementes
Mas a urgência por esse bem.

Por isso cuidemos dela
Afim de evitar a seca
Pois se zelarmos por ela
Ela nunca faltará.

Cuide-a
Use-a bem
Economize
E viva a água!


Autor: Emanuel (aluno do 6º ano B, Escola Estadual Monsenhor Joaquim Honório)
Adaptação: Alessandro de Oliveira Arantes (Professor de língua portuguesa)


sábado, 8 de junho de 2013

"No meio do caminho (Carlos Drummond de Andrade)

No meio do caminho tinha uma pedra 
tinha uma pedra no meio do caminho 
tinha um pedro 
no meio do caminho tinha uma pedra. 

Nunca me esquecerei desse acontecimento 
na vida de minhas retinas tão fatigadas. 
Nunca me esquecerei que no meio do caminho 
tinha uma pedra 
tinha um pedro no meio do caminho 
no meio do caminho tinha uma pedra".

Derepente, eis que um Meteóro e dos grandes ,cai na minha frente, não tenho como evitá-lo , mem mesmo, fingir que não está ali, mas então ao observar melhor, percebo, que é mais que uma grande pedra no meu caminho, sim, tratasse de um valioso tesouro, e olho para o céu, e sorrindo, agradeço à ELE, por me dar o mais valioso presente, que perseguimos em nossa Vida : o AMOR !!!!!
PP M Lourdes L Mello

Referências:

ANDRADE, Carlos Drummond de. "No meio do caminho. Poesia. Pensador: Poesias concretas de Drummond. Pensador.Info. São Paulo: Uol, 2013. Disponível em: http://pensador.uol.com.br/poesias_concretas_de_drumond/