sexta-feira, 27 de maio de 2016
Sorôco, sua mãe, sua filha (Guimarães Rosa)
segunda-feira, 25 de abril de 2016
ENTÃO, ADEUS! – Lygia Fagundes Telles
TELLES, Lygia Fagundes. Então, Adeus! In: "FIGURAS DO BRASIL 80 AUTORES EM 80 ANOS DE FOLHA", Editora PUBLIFOLHA. São Paulo:Folha de São Paulo, 1997. pág. 129 E 130. Disponível em: http://contobrasileiro.com.br/entao-adeus-lygia-fagundes-telles/
quinta-feira, 24 de setembro de 2015
Os Laços de Família - Clarice Lispector
Referências:
LISPECTOR, Clarice. Os Laços de Família. In: LAÇOS DE FAMÍLIA. Rio de Janeiro. Livro. São Paulo: Editora Rocco, 1998. p. 94.
sexta-feira, 6 de março de 2015
Será o Benedito! - Mário de Andrade
— O hôme da cidade, chi!...
Deu uma risada quase histérica, estalada insopitavelmente dos seus sonhos insatisfeitos, desatou a correr pelo caminho, macaco-aranha, num mexe-mexe aflito de pernas, seis, oito pernas, nem sei quantas, até desaparecer por detrás das mangueiras grossas do pomar.
***
Nos primeiros dias Benedito fugiu de mim. Só lá pelas horas da tarde, quando eu me deixava ficar na varanda da casa-grande, gozando essa tristeza sem motivo das nossas tardes paulistas, o negrinho trepava na cerca do mangueirão que defrontava o terraço, uns trinta passos além, e ficava, só pernas, me olhando sempre, decorando os meus gestos, às vezes sorrindo para mim. Uma feita, em que eu me esforçava por prender a rédea do meu cavalo numa das argolas do mangueirão com o laço tradicional, o negrinho saiu não sei de onde, me olhou nas minhas ignorâncias de praceano, e não se conteve:
— Mas será o Benedito! Não é assim, moço!
Pegou na rédea e deu o laço com uma presteza serelepe. Depois me olhou irônico e superior. Pedi para ele me ensinar o laço, fabriquei um desajeitamento muito grande, e assim principiou uma camaradagem que durou meu mês de férias.
***
Pouco aprendi com o Benedito, embora ele fosse muito sabido das coisas rurais. O que guardei mais dele foi essa curiosa exclamação, "Será o Benedito!", com que ele arrematava todas as suas surpresas diante do que eu lhe contava da cidade. Porque o negrinho não me deixava aprender com ele, ele é que aprendia comigo todas as coisas da cidade, a cidade que era a única obsessão da sua vida. Tamanho entusiasmo, tamanho ardor ele punha em devorar meus contos, que às vezes eu me surpreendia exagerando um bocado, para não dizer que mentindo. Então eu me envergonhava de mim, voltava às mais perfeitas realidades, e metia a boca na cidade, mostrava o quanto ela era ruim e devorava os homens. "Qual, Benedito, a cidade não presta, não. E depois tem a tuberculose que..."
— O que é isso?...
- É uma doença, Benedito, uma doença horrível, que vai comendo o peito da gente por dentro, a gente não pode mais respirar e morre em três tempos.
— Será o Benedito...
E ele recuava um pouco, talvez imaginando que eu fosse a própria tuberculose que o ia matar. Mas logo se esquecia da tuberculose, só alguns minutos de mutismo e melancolia, e voltava a perguntar coisas sobre os arranha-céus, os "chauffeurs" (queria ser "chauffeur"...), os cantores de rádio (queria ser cantor de rádio...), e o presidente da República (não sei se queria ser presidente da República). Em troca disso, Benedito me mostrava os dentes do seu riso extasiado, uns dentes escandalosos, grandes e perfeitos, onde as violentas nuvens de setembro se refletiam, numa brancura sem par.
Nas vésperas de minha partida, Benedito veio numa corrida e me pôs nas mãos um chumaço de papéis velhos. Eram cartões postais usados, recortes de jornais, tudo fotografias de São Paulo e do Rio, que ele colecionava. Pela sujeira e amassado em que estavam, era fácil perceber que aquelas imagens eram a única Bíblia, a exclusiva cartilha do negrinho. Então ele me pediu que o levasse comigo para a enorme cidade. Lembrei-lhe os pais, não se amolou; lembrei-lhe as brincadeiras livres da roça, não se amolou; lembrei-lhe a tuberculose, ficou muito sério. Ele que reparasse, era forte mas magrinho e a tuberculose se metia principalmente com os meninos magrinhos. Ele precisava ficar no campo, que assim a tuberculose não o mataria. Benedito pensou, pensou. Murmurou muito baixinho:
— Morrer não quero, não sinhô... Eu fico.
E seus olhos enevoados numa profunda melancolia se estenderam pelo plano aberto dos pastos, foram dizer um adeus à cidade invisível, lá longe, com seus "chauffeurs", seus cantores de rádio, e o presidente da República. Desistiu da cidade e eu parti. Uns quinze dias depois, na obrigatória carta de resposta à minha obrigatória carta de agradecimentos, o dono da fazenda me contava que Benedito tinha morrido de um coice de burro bravo que o pegara pela nuca. Não pude me conter: "Mas será o Benedito!...”. E é o remorso comovido que me faz celebrá-lo aqui.
São Paulo, 2ª. quinzena de outubro de 1939. (n°145)
REFERÊNCIAS:
ANDRADE, Mário de. Será o Benedito!. In: Será o Benedito!. Livro. São Paulo: Editora da PUC-SP, Editora Giordano Ltda. e Agência Estado Ltda.- São Paulo, 1992, pág. 66, uma colaboração de João Antônio Bührer e seus "Arquivos Impagáveis". Disponível em: <http://www.releituras.com/marioandrade_menu.asp> Acesso em: 06/03/2014. Labore citattum apud: © NOGUEIRA JR, Arnaldo. Projeto Releituras. São Paulo, 2014.
quinta-feira, 6 de março de 2014
Será o Benedito! - Mário de Andrade
quarta-feira, 25 de setembro de 2013
Os 10 maiores poemas da Geração Mimeógrafo ou Poesia Marginal

Chacal
vai ter uma festa
que eu vou dançar
até o sapato pedir pra parar.
aí eu paro, tiro o sapato
e danço o resto da vida
JOGOS FLORAIS
Cacaso
Minha terra tem palmeiras
onde canta o tico-tico.
Enquanto isso o sabiá
vive comendo o meu fubá.
Ficou moderno o Brasil
ficou moderno o milagre:
a água já não vira vinho,
vira direto vinagre.
Minha terra tem Palmares
memória cala-te já.
Peço licença poética
Belém capital Pará.
Bem, meus prezados senhores
dado o avançado da hora
errata e efeitos do vinho
o poeta sai de fininho.
(será mesmo com dois esses
que se escreve paçarinho?)
COGITO
Torquato neto
eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível
eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora
eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim
eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranquilamente
todas as horas do fim.
UMA NOITE
Afonso Henriques Neto
o tio cuspia pardais de cinco em cinco minutos.
esta grama de lágrimas forrando a alma inteira
(conforme se diz da jaula de nervos)
recebe os macios passos de toda a família
na casa evaporada
mais os vazios passos
de ela própria menina.
a avó puxava linhas de cor de dentro dos olhos.
uma gritaria de primos e bruxas escalava o vento
escalpelava a tempestade
pedaços de romã podre
no bolor e charco do tanque.
o pai conduzia a festa
como um barqueiro
puxando peixes mortos
nós
os irmãos
jogávamos no fogo
dentaduras pétalas tranças
fotografias cuspes aniversários
e sempre
uma canção
só cal e ossos
a mãe de nuvem parindo orquídeas no cimento.
RECEITA
Nicolas Behr
Ingredientes:
2 conflitos de gerações
4 esperanças perdidas
3 litros de sangue fervido
5 sonhos eróticos
2 canções dos beatles
Modo de preparar
dissolva os sonhos eróticos
nos dois litros de sangue fervido
e deixe gelar seu coração
leve a mistura ao fogo
adicionando dois conflitos de gerações
às esperanças perdidas
corte tudo em pedacinhos
e repita com as canções dos beatles
o mesmo processo usado com os sonhos
eróticos mas desta vez deixe ferver um
pouco mais e mexa até dissolver
parte do sangue pode ser substituído
por suco de groselha
mas os resultados não serão os mesmos
sirva o poema simples ou com ilusões
TIRA-TEIMA
Bernardo Vilhena
Tire a faca do peito
e o medo dos olhos
Ponha uns óculos escuros
e saia por aí. Dando bandeira
Tire o nó da garganta
que a palavra corre fácil
sem desculpas nem contornos
Direta: do diafragma ao céu da boca
Tire o trinco da porta
liberte a corrente de ar
Deixe os bons ventos levantarem a poeira
levando o cisco ao olho grande
Tire a sorte na esquina
na primeira cigana ou no velho realejo
Leia o horóscopo e olhe o céu
lembre-se das estrelas e da estrada
Tire o corpo da reta
e o cu da seringa
que malandro é você, rapaz
o lado bom da faca é o cabo
Tire a mulher mais bonita
pra dançar e dance
Dance olhando dentro dos olhos
até que ela morra de vergonha
Tire o revólver e atire
a primeira pedra
a última palavra
a praga e a sorte
a peste, ou o vírus?
MUITO OBRIGADO
Francisco Alvim
Ao entrar na sala
cumprimentei-o com três palavras
boa tarde senhor
Sentei-me defronte dele
(como me pediu que fizesse)
Bonita vista
pena que nunca a aviste
Colhendo meu sangue: a agulha
enfiada na ponta do dedo
vai procurar a veia quase no sovaco
Discutir o assunto
fume do meu cigarro
deixa experimentar o seu
(Quanto ganhará este sujeito)
Blazer, roseta, o país voltando-lhe
no hábito do anel profissional
Afinal, meu velho, são trinta anos
hoje como ontem ao meio-dia
Uma cópia deste documento
que lhe confio em amizade
Sua experiência nos pode ser muito útil
não é incômodo algum
volte quando quiser
SONETO
Ana Cristina César
Pergunto aqui se sou louca
Quem quer saberá dizer
Pergunto mais, se sou sã
E ainda mais, se sou eu
Que uso o viés pra amar
E finjo fingir que finjo
Adorar o fingimento
Fingindo que sou fingida
Pergunto aqui meus senhores
quem é a loura donzela
que se chama Ana Cristina
E que se diz ser alguém
É um fenômeno mor
Ou é um lapso sutil?
AMOR BASTANTE
Paulo Leminski
quando eu vi você
tive uma ideia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante
basta um instante
e você tem amor bastante
OLHOS DE RESSACA
Geraldo Carneiro
minha deusa negra quando anoitece
desce as escadas do apartamento
e procura a estátua no centro da praça
onde faz o ponto provisoriamente
eu fico na cama pensando na vida
e quando me canso abro a janela
enxergando o porto e suas luzes foscas
o meu coração se queixa amargamente
penso na morena do andar de baixo
e no meu destino cego, sufocado
nesse edifício sórdido & sombrio
sempre mal e mal vivendo de favores
e a minha deusa corre os esgotos
essa rede obscura sob as cidades
desde que a noite é noite e o mundo é mundo
senhora das águas dos encanamentos
eu escuto o samba mais dolente & negro
e a luz difusa que vem do inferninho
no primeiro andar do prédio condenado
brilha nos meus tristes olhos de ressaca
e a minha deusa, a pantera do catre
consagrada à fome e à fertilidade
bebe o suor de um marinheiro turco
e às vezes os olhos onde a lua
eu recordo os laços na beira da cama
percorrendo o álbum de fotografias
e não me contendo enquanto me visto
chego à janela e grito pra estátua
se não fosse o espelho que me denuncia
e a obrigação de guerras e batalhas
eu me arvoraria a herói como você, meu caro
pra fazer barulho e preservar os cabarés.
Referências:
OPÇÃO CULTURAL. Os 10 maiores poemas da Geração Mimeógrafo ou Poesia Marginal.[Artigo].Goiânia, Goiás, Jornal Opção, 2013. Disponível em: http://www.jornalopcao.com.br/posts/opcao-cultural/os-10-maiores-poemas-da-geracao-mimeografo-ou-poesia-marginal
_____.Seja marginal seja herói. [imagem]. In: SDL, Elton. Colunas, Chama a polícia! O poeta é marginal!. [Artigo]. Poetize. Brasil: Leitorcabuloso, 2013. Disponível em: http://leitorcabuloso.com.br/2013/07/chama-a-policia-o-poeta-e-marginal/
quarta-feira, 24 de julho de 2013
Naturalismo


segunda-feira, 28 de novembro de 2011
A geração de 45 e outras fases da literatura moderna
A Semana de Arte Moderna de 1922 teve como objetivo principal buscar nas raízes brasileiras e urbanas uma arte legitimamente nacional e cosmopolita.
Desse movimento artístico-cultural surgem muitas figuras artísticas da época. Na literatura destacam-se Mário e Oswald de Andrade; Tarsila do Amaral e Cândido Portinari na pintura; Brecheret, na escultura; Heitor Villa-Lobos, na música; no cinema nacional da época, Ademar Gonzaga, com a revista Cinearte (1926).
No Brasil durante a fase que ficou conhecida como Getulismo, ocorreram fatos que produziram benefícios e malefícios para a sociedade civil. Essa época ficou marcada pela concessão que o então Presidente da República da época, Getúlio Vargas, fez à classe operária, também à política trabalhista de mobilização e controle das massas. Nesse período o país estava entrando numa das fases mais sombrias da era Vargas, quando o governo central passou a adotar medidas enérgicas, ao aprovar a Lei de Segurança Nacional, em 1935, causando problemas aos opositores do governo, fazendo com que eles se agrupassem em torno da Aliança Nacional Libertadora. A resposta do governo foi breve, e em 1937 foi criado o Departamento de Imprensa e Propaganda, que teve como objetivo principal, ter controle absoluto sobre a imprensa, instaurando a censura prévia, em que ela era usada como método de controle, decidindo o que podia e o que não podia ser publicado, influenciando a opinião pública a favor do governo.
As artes de maneira geral procuravam seguir seu próprio caminho, passando a se organizar em grupos e companhias, primeiro com a companhia teatral de Procópio Ferreira; com o filme A Voz do Carnaval, em que Carmem Miranda, por exemplo, fica famosa. Lúcio Costa e Oscar Niemeyer chamam a atenção para a arquitetura brasileira, que estava começando trilhar um caminho de sucesso. Nessa época começam a surgir e tornarem-se conhecidos os romances regionalistas e estudos relacionados à sociedade brasileira. Destacam-se nesse período Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Rachel de Queiroz e Gilberto Freire.
Nas décadas de 40 e 50, a literatura brasileira começa a traçar novos rumos. Na prosa, surgem tendências diferentes do romance regionalista, a prosa psicológica e introspectiva e os contos intimistas. Seguindo essa tendência, Lygia Fagundes Telles se fixou nessa nova prosa que estava surgindo. Ela desenvolveu uma postura muito próxima à de Clarice Lispector.
A literatura dos anos cinqüenta retoma e transforma o regionalismo, enveredando por caminhos experimentais, particularmente com Guimarães Rosa. Em 1956, é eleito Juscelino Kubitschek, com um governo mais voltado para o desenvolvimento industrial, visando provocar a entrada de capitais estrangeiros, durante seu governo. Nasce Brasília, a nova capital do país. Passado o governo de Juscelino, foi eleito Jânio Quadros, que teve um governo rápido como um meteoro, tendo que renunciar após instaurar alterações na política, forçando o então vice-presidente João Goulart a assumir.
Nos anos 60, floresce o movimento Hippie. Nesta época iniciaram-se e se tornaram famosos os festivais de música popular brasileira, consagram-se vários nomes entre eles Chico Buarque de Hollanda e Caetano Veloso, além do Tropicalismo dos baianos e da Jovem Guarda de Roberto Carlos. Enquanto isso, no cenário político brasileiro, muda-se os governos militares. Nessa época surge O Pasquim, considerado o primeiro jornal alternativo, por se opor aos regimes em vigência naquele período. O jornal foi muito bem aceito pela sociedade, proporcionando a sua circulação do mesmo em todo país.
Finalmente, nos anos 70, o Brasil começa a ser visto como um país em transformação. Houve a abertura política, o fim do regime de exceção e a anistia. Também foi a época em que afloram e se tornam famosas as obras de Lygia Fagundes Telles.
Referências
ARANTES, Alessandro de Oliveira. Aspectos dialógicos em "O moço do saxofone", / Alessandro de Oliveira Arantes. – Macau, RN, 2011. 51p.