Traduzido por: Barão de Paranapiacaba
Deus bem sabe o que faz. Escusa procurar
As provas desse acerto; a abóbora as vai dar.
Viu este fruto um lorpa e, estando a contemplá-lo,
E achando-o muito grande e mui delgado o talo,
"Em que pensava (disse) o autor desta invenção,
Que da abóbora fez tão má coleção?
Se fosse cá por mim, não tinha mais trabalho
Que fazê-la pender daquele alto carvalho.
Por Deus, que isto calhava; em árvore tão grande
Assenta fruto assim e não mesquinha lande.
- Que pena, João, não teres figurado
Na assembleia do Deus, do cura apregoado?
Tudo ficaria então melhor distribuído:
O fruto, que ao carvalho eu vejo suspendido,
E ao meu dedo meiminho iguala na gostosura,
Pousara, em lugar dela, ao rente da planura:
Deus se enganou, decerto. E quanto mais medito
Na má colocação dos frutos, que hei descrito,
Mais me parece nisto equívoco existir".
Com estas reflexões, privado de dormir,
O nosso camponês provara o dito certo:
"Quem muito engenho tem, conserva-se desperto,
"Porque lhe foge o sono". - Entanto, à fresca sombra
Deita-se de um carvalho em mole e verde alfombra.
Magoa-lhe o nariz lande, que se desapega:
Desperta em confusão; com as mãos o rosto esfrega;
Na barba o fruto achou. Com dores do nariz:
"Oá! Pois não sangrou! Se fosse mais pesada
A massa que tombou, que tal fora a pancada!
Se uma abóbora fosse em vez desta frutinha,
Ficara em fresco estado a pobre face minha!
Tal não aprove a Deus! Pois, sábio e onipotente,
Para assim proceder, motivo houve excelente".
E, graças dando ao céu por tudo quanto fez,
A casa recolheu-se em paz o camponês!
Referências:
PARANAPIACABA, Barão. A Lande e a Abóbora. Tradução. Fábula. In: LA FONTAINE, Jean de, 1621-1695. Fábulas: antologia / La Fontaine. - 4. ed. - São Paulo: Martin Claret, 2012.
Extraído do livro:
LA FONTAINE, Jean de, 1621-1695. Fábulas: antologia / La Fontaine. - 4. ed. - São Paulo: Martin Claret, 2012. - (Coleção a obra-prima de cada autor; 200)
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