terça-feira, 28 de dezembro de 2010


O que significa a Flor-de-lis, símbolo do curso de Letras?



Segundo o livro ilustrado dos Signos e Símbolos, de Miranda Bruce-Mitford, Luís XVII adotou a íris como seu emblema durante as Cruzadas e o nome evoluiu de "fleur-de-louis" para "fleur-de-lis" (flor-de-lis), representando com as três pétalas, a fé, a sabedoria e o valor.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Perspectiva Bakhtiniana: Dialogismo

Quando um linguista delimita um diálogo, mostrando como um diálogo perspassa o outro, o mesmo instaura uma apropriação do discurso alheio, por parte do sujeito, para elaboração da enunciação própria, segundo Bakhtin (1998) “a orientação dialógica é naturalmente um fenômeno próprio a todo o discurso [...] [o discurso] se encontra com o discurso de outrem e não pode deixar de participar, com ele, de uma interação viva e tensa.

Possibilita a formação de enunciados, que subsidiam as intenções do locutor, refratam as emoções, valores, paixões, nunca são neutros. Eles interagem com a realidade, por isso são dialógicos.

O autor busca dados comuns da humanidade, para inspirar as suas obras, a partir de um fato ocorrido ou provocado.

A teoria de Bakhtin contempla situações em que a palavra adquire diferentes representações de acordo com a situação comunicativa. Dessa forma o sujeito semantiza a lingua dependendo do evento enunciativo. “O centro de gravidade da língua não reside na conformidade à norma da forma utilizada, mas na nova significação que essa forma adquire no contexto” (BAKHTIN, 1988:92).

Também o autor transmite além de noções e conceitos, seu enunciado transfere para seus leitores uma comunicação expressiva, afinal o poeta produz arte e esta é imbuída de valores e ideologias. “A palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial” (BAKHTIN, 1988:95).

O dialogismo está presente quando o discurso individual perpassa o discurso alheio, e busca nesses últimos subsídios para elaboração do seu próprio; além disso reflete o “olhar” do autor, que denota sua ideologiae sua perspectiva do dado social, e é neste aspecto que se verifica a relação existente entre a linguagem e a vida.

BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. Tradução Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. 8ª Ed. São Paulo: Huitec, 1997.

FIORIN, José Luiz. Introdução ao pensamento de Bakhtin. São Paulo: Ática, 1996.

FLORES, Valdir do Nascimento; TEIXEIRA, Marlene. O dialogismo: Mikhail Bakhtin. In:___.Introdução à linguística da Enunciação. São Paulo: Contexto, 2008. P.45.

ORLANDI, Eni Pulcinelli. Linguagem e método: uma questão da análise do discurso. In: Discurso e leitura. São Paulo: Cortez, 2008. P.35-40.

Aluísio Azevedo: Marcas de um poeta naturalista

Aluísio Azevedo foi um dos maiores escritores naturalistas do Brasil, além de escritor literário, ele também foi caricaturista, jornalista, romancista e diplomata. Ele era filho do vice-cônsul português David Gonçalves de Azevedo e de D. Emília Amália Pinto de Magalhães e irmão mais moço do comediógrafo Artur Azevedo.

Da infância à adolescência, Aluísio estudou em São Luís e trabalhou como caixeiro e guarda-livros. Foi na adolescência que ele revelou grande interesse pelo desenho e pela pintura, o que certamente o auxiliou no aprendizado da técnica que ele utilizou para caracterizar os personagens de seus romances. Com a morte do pai, em 1878, ele se viu obrigado a voltar a São Luís, para tomar conta da família, foi a partir daí que ele começou a carreira de escritor e depois se tornando um dos grandes autores da nossa literatura.

1. BIOGRAFIA

Aluísio Azevedo (Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo), caricaturista, jornalista, romancista e diplomata, nascido em São Luís, MA, em 14 de abril de 1857, e falecido em Buenos Aires, Argentina, em 21 de janeiro de 1913.

Era filho do vice-cônsul português David Gonçalves de Azevedo e de D. Emília Amália Pinto de Magalhães e irmão mais moço do comediógrafo Artur Azevedo. Sua mãe havia casado, aos 17 anos, com um comerciante português. O temperamento brutal do marido determinou o fim do casamento. Emília refugiou-se em casa de amigos, até conhecer o vice-cônsul de Portugal, o jovem viúvo David. Os dois passaram a viver juntos, sem contraírem segundas núpcias, o que à época foi considerado um escândalo na sociedade maranhense.

Da infância à adolescência, Aluísio estudou em São Luís e trabalhou como caixeiro e guarda-livros. Desde cedo revelou grande interesse pelo desenho e pela pintura, o que certamente o auxiliou na aquisição da técnica que empregará mais tarde ao caracterizar os personagens de seus romances. Em 1876, embarcou para o Rio de Janeiro, onde já se encontrava o irmão mais velho, Artur. Matriculou-se na Imperial Academia de Belas Artes, hoje Escola Nacional de Belas Artes. Para se manter, ele fazia caricaturas para os jornais da época. A partir desses “bonecos” que conservava sobre a mesa de trabalho, escrevia cenas de romances.

A morte do pai, em 1878, obrigou-o a voltar a São Luís, para tomar conta da família. Ali começou a carreira de escritor, com a publicação, em 1879, do romance Uma lágrima de mulher, típico dramalhão romântico. Ajuda a lançar e colabora com o jornal anticlerical O Pensador, que defendia a abolição da escravatura, enquanto os padres mostravam-se contrários a ela. Em 1881, Aluísio lança O mulato, romance que causou escândalo entre a sociedade maranhense pela crua linguagem naturalista e pelo assunto tratado: o preconceito racial. O romance teve grande sucesso, foi bem recebido na Corte como exemplo de naturalismo, e Aluísio pôde retornar para o Rio de Janeiro, embarcando em 7 de setembro de 1881, decidido a ganhar a vida como escritor.

Quase todos os jornais da época tinham folhetins, e foi num deles que Aluísio passou a publicar seus romances. A princípio, eram obras menores, escritas apenas para garantir a sobrevivência. Depois, surgiu nova preocupação no universo de Aluísio: a observação e análise dos agrupamentos humanos, a degradação das casas de pensão e sua exploração pelo imigrante, principalmente o português. Dessa preocupação resultariam duas de suas melhores obras: Casa de pensão (1884) e O cortiço (1890). De 1882 a 1895 escreveu sem interrupções romances, contos e crônicas, além de peças de teatro em colaboração com Artur de Azevedo e Emílio Rouède.

Em 1895 ingressou na diplomacia. O primeiro posto foi em Vigo, na Espanha. Depois serviu no Japão, na Argentina, na Inglaterra e na Itália. Passara a viver em companhia de D. Pastora Luquez, de nacionalidade argentina, junto com os dois filhos, Pastor e Zulema, por ele adotados. Em 1910, foi nomeado cônsul de 1ª. Classe, sendo removido para Assunção. Buenos Aires foi seu último posto. Ali faleceu, aos 56 anos. Foi enterrado naquela cidade. Seis anos depois, por uma iniciativa de Coelho Neto, a urna funerária de Aluísio Azevedo chegou a São Luís, onde o escritor foi sepultado.

2.1. INFLUÊNCIAS LIBERAIS

Em 1876, com 19 anos, Aluísio transferiu-se para a Corte (onde já se encontrava seu irmão Artur) pensando em seguir o curso de pintura na Imperial Academia de Belas-Artes. Acabou ingressando na imprensa como desenhista de charges. Na ocasião, o Rio de Janeiro era o centro das idéias liberais no Brasil, onde se discutiam o abolicionismo e a causa republicana a cada esquina. Aluísio conviveu nesse ambiente por dois anos. Em 1878, porém, viu-se obrigado a retornar a São Luís para cuidar do inventário do pai que falecera.

Ao chegar à cidade, escandalizou a sociedade local com suas idéias liberais. Publicou, então, seu primeiro romance – Uma lágrima de mulher (1880) -, obra de inspiração romântica elogiada por seus conterrâneos. Por esse tempo, ajudou a lançar um periódico anticlerical, O Pensador, em cujas páginas encontravam-se provocações como “Pensar é o contrário de crer”. Decisivo para Aluísio foi o contato, por essa época, com as obras de Eça de Queirós, O Crime do Padre Amaro (1875) e O Primo Basílio (1878).

2.2. ESCÂNDALO LITERÁRIO

Em 1881, ao publicar O Mulato, obra apontada como o primeiro romance da Literatura brasileira, Aluísio Azevedo Gerou um escândalo to grande quanto o provocado por sua mãe anos atrás. A indignação foi tanta por parte da sociedade e da crítica que uma revista da época, porta-voz do clero conservador, mandou o escritor abandonar a Literatura e dedicar-se à agricultura: “A lavoura, meu estúpido! À lavoura! Precisamos de braços e não de prosas em romances! Isto sim é real. A Agricultura felicita os indivíduos e enriquece os povos! À foice! à enxada!”.

Nesse mesmo ano, com o dinheiro obtido com a venda de dois mil exemplares de O Mulato, Aluísio deixou São Luís para instalar-se novamente na Corte.

2.3. ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS

Depois de muito desgostoso com a profissão de escritor, decidiu ingressar no serviço público. Prestou concurso para a carreira diplomática e, em 1896, após vários anos de imensa atividade literária partiu para o exterior em sua nova função, abandonando definitivamente a Literatura.

Em 1897, ao ser fundada a Academia Brasileira de Letras, Aluísio Azevedo foi escolhido para ocupar uma das cadeiras de entidade. O escritor morreu em 1913, aos 55 anos, em Buenos Aires, no lado de Pastora Luquez, uma argentina com quem viveu seus últimos dez anos.

2.4. O NATURALISMO

O Naturalismo foi um movimento literário que mostra o homem como produto de forças “naturais”, desenvolve seus temas voltados para a análise do comportamento patológico do homem, de suas taras sexuais, de seu lado animalesco. Eles acreditavam que o indivíduo é mero produto da hereditariedade e seu comportamento é fruto do meio em que vive e o qual age; o Evolucionismo de Darwin os inspirava, eles acreditavam ser a seleção natural que impulsionava a transformação das espécies. Nesse tipo de romance predomina o instinto, o fisiológico e o natural, retratando a agressividade, a violência, o erotismo como elementos que compõem a personalidade humana.

3. ANÁLISE DA OBRA – O CORTIÇO

O Cortiço foi à maior obra Naturalista que o Brasil já teve, ela apresenta como personagem principal João Romão, que era um português que tem como principal objetivo na vida enriquecer a qualquer custo. Ambicioso ao extremo, não mede esforços, sacrificando até a si mesmo. Veste-se mal. Dorme no mesmo balcão em que trabalha. Das verduras de sua horta, come as piores: o resto vende. Ele crescia explorando as pessoas do bairro, ele vendia vinho diluído com água, dando a idéia de que o brasileiro era explorado pelos estrangeiros.

A manifestação do seu caráter é mais evidente na sua relação com Bertoleza, que era essa uma escrava que ganhava a vida vendendo peixe frito enfrente a venda de João Romão, com o tempo eles se tornaram amantes. Ele aproveitava as economias dela e, mentindo que havia comprado a sua carta de alforria, investe em seus próprios negócios, construindo três casinhas, imediatamente alugadas, aí foi onde ele revelou o seu lado de trapaceiro e aproveitador, mentindo para a amante e usando as economias para outros fins. Também com o tempo, de três chegam a 99 casinhas, ele foi crescendo através do dinheiro dos aluguéis que ele investe; também com uma postura claramente capitalista, e através do furto do material de construção dos vizinhos, tornando-se o Cortiço São Romão.

De qualquer maneira o autor quis mostrar como surgiu o cortiço, e como os estrangeiros se aproveitavam dos brasileiros com suas artimanhas, foi com essa naturalidade que Aluísio Azevedo descreveu a origem dos cortiços e vilas daquela época, e também mostra como o indivíduo é envolvido pelo meio, o cenário é promíscuo e insalubre e retrata o cruzamento das raças, a explosão da sexualidade, a violência e a exploração do homem.

4. CONCLUSÃO

Aluísio Azevedo foi o primeiro escritor brasileiro a viver exclusivamente de seu ofício. Para isso produziu romances de folhetim ao gosto romântico, obras que considerava “comerciais”, e romances naturalistas, obras que considerava “artísticas”.

Ele ficou conhecido após publicar O Mulato, em 1881, que marcou o início do naturalismo no Brasil, e a também O Cortiço, obra que marcou essa tendência, e fez de Aluísio Azevedo um dos maiores autores do gênero.

5. REFERÊNCIAS

Academia Brasileira de Letras

http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=106

http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=101&sid=106

Livro: O Cortiço – Editora Klick / Jornal O Globo, Rio de Janeiro, 1997.

É Help! Vida e Obra. Um autor que vivia de seu ofício – Anexo do livro O Cortiço, de Aluísio Azevedo, Editora Klick. Impresso em Santiago, Chile. 1997.

Revista Brasil Escola

http://www.brasilescola.com/literatura/o-naturalismo.htm

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Perspectiva Bakhtiniana: Polifonia Textual

Devemos partir do princípio que um texto é sempre recheado de outros textos, não somente o do autor; mas o texto do autor complementado pelo texto dos outros, pois na perspectiva bakhtiniana, o discurso é constituído das relações dialógicas, como um palco de luta de vozes. Bakhtin destaca que essas relações são possíveis tanto entre enunciações integrais, como em parte significante do enunciado, e até mesmo em uma palavra isolada – isto “se ouvimos nela a voz do outro”, isto é, “se nela se chocam dialogicamente duas vozes” (BAKHTIN, 1997b, p. 184).

Os textos são dialógicos porque resultam do embate de muitas vozes sociais; podem, no entanto, produzir efeitos de polifonia, quando essas vozes ou algumas delas deixam-se escutar, ou de monofonia, quando o diálogo é mascarado e uma voz, apenas, faz-se ouvir. (BARROS, 1999, p.06).

Segundo Barros (1999), nenhuma palavra é nossa, ela traz a perspectiva de outra voz. O texto, concebido por Bakhtin, marca o ponto de intersecção de vários diálogos, de cruzamento de vozes que se originaram em práticas de linguagem diversificada socialmente, essas vozes, por sua vez, polemizam-se ou se completam ou respondem umas ás outras (BARROS, 1999).

Desse modo, podemos considerar monofonia e polifonia como resultados de efeitos de sentidos (BARROS, 1999) que decorrem de procedimentos discursivos, ou seja, se um texto “entrever muitas vozes”, diríamos que ele é polifônico; por outro lado, se ele esconder essas vozes, então apresenta o estatuto de um texto monofônico.

Seguindo essa perspectiva, inicialmente pretendemos apenas encontrar essas vozes ou discursos no conto escolhido e supracitado, para detectar a presença da polifonia nas linhas do texto, para depois relacionar com as teorias durante a análise, e comprovar o uso delas na constituição do texto. Também mostraremos como a voz do Outro, evocada no discurso do Eu, instaura o fenômeno polifônico.

O Outro e o Eu constituem sujeitos- “afirmar o ‘eu’ do outro não como objeto, mas como outro sujeito”. (BAKHTIN, 1997b, p. 184). Também mostraremos em nosso futuro estudo como essa polifonia está sendo usada como elemento ou recurso estilístico na composição desses textos; também tratando do mesmo assunto, Barros (1999:04), afirma que todo texto é “tecido polifonicamente por fios dialógicos de vozes que polemizam entre si, se completam ou respondem umas às outras”, o que mostra que a maior parte dos textos existentes, seja ele literário ou não, é composta por outros textos, e que esses textos se interligam entre si, em uma ou mais vozes no mesmo texto, ou seja, a voz do autor interligando-se ou mesclando-se com a voz do outro ou dos outros (no caso de mais de uma voz) em um único texto.

Tanto as palavras quanto às idéias que vêm de outrem, como condição discursiva, tecem o discurso individual de forma que as vozes – elaboradas, citadas, assimiladas ou simplesmente mascaradas – interpenetram-se de maneira a fazer-se ouvir ou a ficar nas sombras autoritárias de um discurso monologizado. (BRAIT, 1999, p. 14,15).

O discurso polifônico é, hoje, a forma que prevalece aberta sempre a novas leituras. A tendência de esconder inspirações ou raízes subverteu-se na romancidade, que é configurada por Bakhtin como “pluralidade de vozes”. Tal conceito, cunhado pelo filósofo em Problemas da poética de Dostoievski (2005), faz referência às inovações pertencentes à obra desse escritor que foi uma inspiração para Bakhtin.

Essa perspectiva surge como uma manifestação das vozes sociais diretamente ligadas ao fenômeno da polifonia: os contrastes e temas tecem uma malha textual refletindo contradições, sobreposições. Segundo Bakhtin apud Brait (2009), toda obra é construída como um contínuo diálogo interior de três vozes nos limites de uma consciência que se decompôs.

A essência da polifonia consiste justamente no fato de que as vozes, aqui, permanecem independentes e, como tais, combinam-se numa individual, então é precisamente na polifonia que ocorre a combinação de várias vontades individuais, realiza-se a saída de princípio para além dos limites de uma vontade. Poder-se-ia dizer assim: a vontade artística da polifonia é a vontade de combinação de muitas vontades, a vontade do acontecimento. (BAKHTIN, 2005, p. 21)

A incorporação de vozes de outros em um novo enunciado pode se dar de forma demarcada, em que a tomada do discurso alheio é mais nítida, e de forma não demarcada e, por isso, não tão facilmente percebida.

Há duas maneiras básicas de incorporar distintas vozes no enunciado:

a) aquela em que o discurso do outro é ‘abertamente citado e nitidamente separado’;

b) aquela em que o enunciado é bivocal, ou seja, internamente dialogizado. (FIORIN, 2006, p. 174)

Segundo a teoria do dialogismo bakhtiniano (Volochinov, 1929), o discurso é constitutivamente polifônico e se caracteriza por um jogo de vozes, de discursos, num permanente diálogo. Bakhtin considera o dialogismo o princípio constitutivo da linguagem que é, para ele, por constituição, dialógica, num cruzamento constante de discursos. Esse cruzamento, essa pluralidade existente no discurso é que o faz polifônico, mostrando as diferentes vozes que nele se realizam. Assim, o sujeito, ao falar, entende seu interlocutor não apenas como um receptor – portanto, o sujeito não é apenas um emissor –, mas como alguém com quem ele irá contrapor o seu discurso.

Com Authier-Revuz (1990), há a teorização de um discurso não linear, derrubando a ideia de um dizer único e bem especificado. Na verdade, há um discurso heterogêneo, que inscreve o outro na cadeia discursiva através de formas marcadas. Esse discurso heterogêneo, plural, polifônico – o um e o outro no discurso – apresenta um sujeito que coloca em evidência o seu inconsciente, possibilitando-lhe mostrar a sua intervenção no mundo exterior, seu encontro com outros discursos.

representar a idéia do outro, conservando-lhe toda a plenivalência enquanto idéia, mas mantendo simultaneamente a distância, sem reafirmá-la nem fundilá com sua própria ideologia representada. [...] a idéia é um acontecimento vivo, que irrompe no ponto de contato dialogado entre duas consciências. (BAKHTIN apud BRAIT, 2009)

Nesse sentido, a idéia é semelhante ao discurso, com o qual forma uma unidade dialética. Com o discurso, a idéia quer ser ouvida, entendida, “respondida” por outras vozes e de outras posições. Como o discurso, a idéia é por natureza dialógica.

De acordo com Bakhtin, a polifonia “pressupõe uma multiplicidade de vozes plenivalentes nos limites de uma obra” (2005: 35), o que permite o autor a escolher como essas vozes podem-se interligar em alguma parte do texto. “A polifonia ocorre quando cada personagem fala com a sua própria voz, expressando seu pensamento particular, de tal modo que, existindo n personagens, existirão n posturas ideológicas” (LOPES 2003: 74).

As palavras do outro, introduzidas na nossa fala, são revestidas inevitavelmente de algo novo, da nossa compreensão e da nossa avaliação, isto é, tornaram-se bivocais. O único que pode diferençar-se é a relação de reciprocidade entre essas duas vozes. A transmissão da afirmação do outro em forma de pergunta já leva a um atrito entre duas interpretações numa só palavra, tendo em vista que não apenas perguntamos como problematizamos a afirmação do outro. O nosso discurso da vida prática está cheio de palavras de outros. Com algumas delas fundimos inteiramente a nossa voz, esquecendo-nos de quem são; com outras, reforçando as nossas próprias palavras, aceitando aquelas como autorizadas para nós; por último, revestidos de terceiras das nossas próprias intenções, que são estranhas e hostis a elas. (BAKHTIN (2002) apud BRAIT, 2009)

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

AS POESIAS DE MANUEL BANDEIRA NUMA PERSPECTIVA BAKHTINIANA.

AS POESIAS DE MANUEL BANDEIRA NUMA PERSPECTIVA BAKHTINIANA.

Alessandro de Oliveira Arantes (NAESM/UERN)*

Francisco Canindé Martins (NAESM/UERN)*

Francisca Elitânia Bezerra de Araújo (NAESM/UERN)*

RESUMO

O presente trabalho busca verificar como se aplica a teoria do dialogismo, que foi proposta por Bakhtin, para explicar alguns fenômenos linguísticos, presentes em muitas poesias, especificamente, analisaremos as de Manuel Bandeira. Nesses textos notável a apropriação do discurso alheio, por parte do sujeito, para elaboração da enunciação própria, que é muito comum nas poesias que retratam algo ou fato ocorrido. Ainda verificamos como esses conceitos bakhtiniano, possibilitam a formação de enunciados, que subsidiam as intenções do locutor, refletem as emoções, valores, paixões, e, por isso nunca são neutros. Observamos que o dialogismo está presente quando o discurso individual perpassa o discurso alheio, e busca nesses últimos subsídios para elaboração do seu próprio. Além disso, reflete o “olhar” do autor, que denota sua ideologia e sua perspectiva do dado social. Apontamos de que forma aparece o dialogismo nas poesias do poeta, e também uma comparação feita com elementos da realidade, para comprovar os conceitos aplicados durante a análise. Por fim mostraremos a visão do autor acerca de determinados assuntos, que são pouco explorados pelos autores.

PALAVRAS-CHAVE: Leitura. Poemas. Dialogismo. Cotidiano. Enunciados. teoria, perspectiva.

METODOLOGIA

Análise dos poemas de Bandeira, seguindo conceitos sobre o dialogismo, segundo a perspectiva adotada por Bakhtin, e aplicando-o nos poemas, para comprovar a aplicabilidade dessas teorias e conceitos nos poemas e nos textos literários.

INTRODUÇÃO

Neste presente trabalho, verificaremos como se aplica a teoria do dialogismo, que foi proposta por Bakhtin, para explicar alguns fenômenos linguísticos, presentes em muitas poesias. Também iremos perceber que o dialogismo está presente é notável a apropriação do discurso alheio, por parte do sujeito, para elaboração da enunciação própria, que é muito comum nas poesias que retratam algo ou fato ocorrido.

Também possibilitam a formação de enunciados, que auxiliam as intenções do locutor, refletem as emoções, valores, paixões, nunca são neutros. Eles interagem com a realidade, por isso são dialógicos.

PERSPECTIVA BAKHTINIANA - O DIALOGISMO

Quando um linguista delimita um diálogo, mostrando como um diálogo perspassa o outro, o mesmo instaura uma apropriação do discurso alheio, por parte do sujeito, para elaboração da enunciação própria, segundo Bakhtin (1998) “a orientação dialógica é naturalmente um fenômeno próprio a todo o discurso [...] [o discurso] se encontra com o discurso de outrem e não pode deixar de participar, com ele, de uma interação viva e tensa”.

Possibilita a formação de enunciados, que subsidiam as intenções do locutor, refratam as emoções, valores, paixões, nunca são neutros. Eles interagem com a realidade, por isso são dialógicos. O autor busca dados comuns da humanidade, para inspirar as suas obras, a partir de um fato ocorrido ou provocado.

A teoria de Bakhtin contempla situações em que a palavra adquire diferentes representações de acordo com a situação comunicativa. Dessa forma o sujeito semantiza a lingua dependendo do evento enunciativo. “O centro de gravidade da língua não reside na conformidade à norma da forma utilizada, mas na nova significação que essa forma adquire no contexto” (BAKHTIN, 1988:92).

Também o autor transmite além de noções e conceitos, seu enunciado transfere para seus leitores uma comunicação expressiva, afinal o poeta produz arte e esta é imbuída de valores e ideologias. “A palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial” (BAKHTIN, 1988:95).

O dialogismo está presente quando o discurso individual perpassa o discurso alheio, e busca nesses últimos subsídios para elaboração do seu próprio; além disso, reflete o “olhar” do autor, que denota sua ideologia e sua perspectiva do dado social, e é neste aspecto que se verifica a relação existente entre a linguagem e a vida.

DIALOGISMO ENCONTRADO NAS POESIAS DE BANDEIRA

Nas poesias de Manuel Bandeira, é notável a presença de elementos dialógicos, que mostram que o texto, no caso especificamente, as poesias, elas se refletem as emoções, os valores, as paixões, e, portanto nunca são neutros. Por eles interagirem com a realidade, por isso são chamados de textos dialógicos. O autor busca dados comuns da humanidade, para inspirar as suas obras, a partir de um fato ocorrido ou provocado. A partir daí, pode-se notar no poema a seguir alguns desses elementos presentes:




Quando estás vestida,
Ninguém imagina
Os mundos que escondes
Sob as tuas roupas.

(Assim, quando é dia,
Não temos noção
Dos astros que luzem
No profundo céu.

Mas a noite é nua,
E, nua na noite,
Palpitam teus mundos
E os mundos da noite.

Brilham teus joelhos,
Brilha o teu umbigo,
Brilha toda a tua
Lira abdominal.

Teus exíguos
- Como na rijeza
Do tronco robusto
Dois frutos pequenos -

Brilham.) Ah, teus seios!
Teus duros mamilos!
Teu dorso! Teus flancos!
Ah, tuas espáduas!

Se nua, teus olhos
Ficam nus também:
Teu olhar, mais longe,
Mais lento, mais líquido.

Então, dentro deles,
Bóio, nado, salto
Baixo num mergulho
Perpendicular.

Baixo até o mais fundo
De teu ser, lá on de
Me sorri tu'alma
Nua, nua, nua...



Neste presente poema é notável a comparação que o autor faz com a questão da nudez feminina escondida por trás das roupas, com o céu noturno. Que também é nú, por não haver nenhum tipo de coberta que permita que não seja observado o brilho e a sua beleza. Fazendo uma comparação com o corpo de uma mulher, exaltando o brilho e a beleza do corpo, e associando em seus pensamentos, como o oceano, onde ele pode mergulhar profundamente para descobrir o ser referido por ele.

Também o enunciado contruído pelo autor, transfere para seus leitores uma comunicação expressiva, afinal o poeta produz arte e esta é persuadida de valores e ideologias. “A palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial” (BAKHTIN, 1988:95).

Também é notável a presença de elementos dialógicos no poema a seguir, onde voce nota um discurso individual perpassando um discurso alheio, e transformado em poesia. E permitiu apartir do que foi apropriada, a elaboração do seu próprio discurso, só que transformado em arte. Também, além disso, reflete a visão do autor, que indica sua ideologia e sua perspectiva sobre o fato social.

Namorados

O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
-Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com sua cara.
A moça olhou de lado e esperou.
-Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê uma lagarta listrada?
A moça se lembrava:
-A gente fica olhando...
A meninice brincou de novo nos olhos dela.
O rapaz prosseguiu com muita doçura:
-Antônia, você parece uma lagarta listrada.
A moça arregalou os olhos, fez exclamações.
O rapaz concluiu:
-Antônia, você é engraçada! Você parece louca.

COMPARAÇÃO ENTRE AS POESIAS E SITUAÇÕES COTIDIANAS

Também temos que levar em consideração nessas poesias, a comparação e a associação a algo cotidiano. Segundo Bakhtin (1988). “A palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial”. Seguindo essa perspectiva, é notável também a presença de um sentido ideológico na poesia abaixo, pois o autor faz uma comparação entre tipos de mulheres, pois para ele as mulheres não são tão lindas quanto o vestido, e no final faz uma comparação com um fato corriqueiro do cotidiano das grandes cidades.

Mulheres

Como as mulheres são lindas!
Inútil pensar que é do vestido...
E depois não há só as bonitas:
Há também as simpáticas.
E as feias, certas feias em cujos olhos vejo isto:
Uma menininha que é batida e pisada e nunca sai da cozinha.

Como deve ser bom gostar de uma feia!
O meu amor porém não tem bondade alguma.
É fraco! Fraco!
Meu Deus, eu amo como as criancinhas...

És linda como uma história da carochinha...
E eu preciso de ti como precisava de mamãe e papai
(No tempo em que pensava que os ladrões moravam no morro atrás de casa e tinham cara de pau)

A VISÃO DO AUTOR PARA COM UM FATO COTIDIANO

Nos poemas a seguir, notaremos a presença de elementos que mostram a visão que o autor adquiriu a partir da observação de situações cotidianas. Também é possível notar no primeiro poema, que o autor retrata o fato de forma que passa a impressão de que o autor estava passando por um período de alucinação ou loucura temporária, que pode se notar no poema abaixo:

Satélite

Fim de tarde.
No céu plúmbeo
A lua baça
Paira.

Muito cosmograficamente
Satélite.

Desmetaforizada,
Desmitificada,

Despojada do velho segredo de melancolia,
Não é agora o golfão de cismas,
O astro dos loucos e enamorados,
Mas tão somente
Satélite.

Ah! Lua deste fim de tarde,
Desmissionária de atribuições românticas;
Sem show para as disponibilidades sentimentais!

Fatigado de mais-valia,
gosto de ti, assim:
Coisa em si,
-Satélite.

No segundo poema abaixo, é notável, o escracho com que ele trata de um fato difícil de ser tratada, a relação sexual, detalhando de forma às vezes metafórica, como se passa este acontecimento. Segundo a teoria de Bakhtin, estas duas poesias contemplam situações em que a palavra adquire diferentes representações de acordo com a situação comunicativa. Dessa forma o sujeito semantiza a lingua dependendo do evento enunciativo. O que pode ser notado no poema abaixo:

A Cópula

Depois de lhe beijar meticulosamente
o cu, que é uma pimenta, a boceta, que é um doce,
o moço exibe à moça a bagagem que trouxe:
culhões e membro, um membro enorme e turgescente.

Ela toma-o na boca e morde-o. Incontinenti,
Não pode ele conter-se, e, de um jacto, esporrou-se.
Não desarmou porém. Antes, mais rijo, alteou-se
E fodeu-a. Ela geme, ela peida, ela sente

Que vai morrer: - "Eu morro! Ai, não queres que eu morra?!"
Grita para o rapaz que aceso como um diabo,
arde em cio e tesão na amorosa gangorra

E titilando-a nos mamilos e no rabo
(que depois irá ter sua ração de porra),
lhe enfia cona adentro o mangalho até o cabo.

CONCLUSÃO

Diante dos fatos apresentados e analisados, podemos concluir que, o dialogismo proposto por Bakhtin realmente pode ser aplicado não somente para explicar os discursos oriundos de textos ou fontes midiáticas, também concluímos que pode ser usada também para entender e aplicar os conceitos na análise de textos literários, especificamente nesse trabalho, analisamos os poemas de Manuel Bandeira, seguindo a perspectiva do dialogismo, para entender como foi possível para o autor associar e retratar a realidade em suas poesias e poemas diversos.

Por fim, esse campo de análise dialógica é bem amplo, e com a ajuda dele entendemos algumas coisas que não são levadas em consideração durante a leitura ou análise textual, a de como ele conseguiu retratar o fato que está sendo contado, também como ele associa o fato descrito no texto com algo corriqueiro e que as pessoas não retratam, por questões ideológicas.

REFERÊNCIAS:

BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. Tradução Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. 8ª Ed. São Paulo: Huitec, 1997.

FIORIN, José Luiz. Introdução ao pensamento de Bakhtin. São Paulo: Ática, 1996.

FLORES, Valdir do Nascimento; TEIXEIRA, Marlene. O dialogismo: Mikhail Bakhtin. In:___.Introdução à linguística da Enunciação. São Paulo: Contexto, 2008. P.45.

ORLANDI, Eni Pulcinelli. Linguagem e método: uma questão da análise do discurso. In: Discurso e leitura. São Paulo: Cortez, 2008. P.35-40.

Poesias extraidas do Site: www.pensador.info/manuel_bandeira_poesias/