domingo, 22 de julho de 2012

Paz (Deífilo Gurgel)


É preciso deixar o coração
cantar uma canção de amor e paz.
E partir, repartindo madrigais
entre homens, famintos de ilusão.

Porque, amanhã, quem sabe? brotarão
flores e frutos, onde agora jaz
esta flora de pedras e calhaus
e os homens todos se compreenderão.

E mesmo, quem me diz que eu, amanhã,
serei o mesmo lúcido jogral
que ora tange o alaúde sem temor?

Por isto, urge que eu cante esta canção
de amor e paz, um canto universal,
para que nasça e frutifique o amor.

DEÍFILO GURGEL

sábado, 7 de julho de 2012

O aluno por ele mesmo (Autoria desconhecida)

O aluno não copia, nem cola; ele apenas analisa e compara resultados...
O aluno não conversa muito; ele apenas dialoga, troca opiniões...
O aluno não dorme em sala de aula; na verdade, ele se concentra...
O aluno não se distrai; ele examina cientificamente o voo das moscas...
O aluno não falta na escola; é que ele é solicitado em outros lugares...
O aluno não diz besteira; ele desabafa, bota pra fora o seu eu interior...
O aluno não masca chiclete; na verdade, ele estimula as mandíbulas...
O aluno não vê ou lê revista na aula; ele só que se informar melhor...
O aluno não destrói a escola; ele só exercita os músculos...
O aluno não escreve pornografia no banheiro; ele só alivia as tensões...
O aluno nunca erra na prova; ele apenas tem uma opinião diferente...
O aluno não tolera horário vago; ele só quer ampliar o intervalo...
O aluno não tira nora baixa; ele só quer experimentar novos resultados...
O aluno não copia monografias dos outros; ele apenas tira xerox...

AUTORIA DESCONHECIDA

Tecendo a Manhã (João Cabral de Melo Neto)


Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

JOÃO CABRAL DE MELO NETO

Regresso ao Lar (Abílio Guerra Junqueiro)

Ai, há quantos anos que eu parti chorando 
deste meu saudoso, carinhoso lar!...
Foi há vinte?... Há trinta?... Nem eu sei já quando!...
Minha velha ama, que me estás fitando,
canta-me cantigas para me eu lembrar!...

Dei a volta ao mundo, dei a volta à vida...
Só achei enganos, decepções, pesar...
Oh, a ingénua alma tão desiludida!...
Minha velha ama, com a voz dorida.
canta-me cantigas de me adormentar!...

Trago de amargura o coração desfeito...
Vê que fundas mágoas no embaciado olhar!
Nunca eu saíra do meu ninho estreito!...
Minha velha ama, que me deste o peito,
canta-me cantigas para me embalar!...

Pôs-me Deus outrora no frouxel do ninho
pedrarias de astros, gemas de luar...
Tudo me roubaram, vê, pelo caminho!...
Minha velha ama, sou um pobrezinho...
Canta-me cantigas de fazer chorar!...

Como antigamente, no regaço amado
(Venho morto, morto!...), deixa-me deitar!
Ai o teu menino como está mudado!
Minha velha ama, como está mudado!
Canta-lhe cantigas de dormir, sonhar!...

Canta-me cantigas manso, muito manso...
tristes, muito tristes, como à noite o mar...
Canta-me cantigas para ver se alcanço
que a minha alma durma, tenha paz, descanso,
quando a morte, em breve, ma vier buscar!

Guerra Junqueiro, in 'Os Simples'

ABÍLIO GUERRA JUNQUEIRO

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Meninos Carvoeiros (Manuel Bandeira)

Os meninos carvoeiros
Passam a caminho da cidade.
— Eh, carvoero!
E vão tocando os animais com um relho enorme.

Os burros são magrinhos e velhos.
Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.
A aniagem é toda remendada.
Os carvões caem.

(Pela boca da noite vem uma velhinha que os recolhe, dobrando-se com um gemido.)

— Eh, carvoero!
Só mesmo estas crianças raquíticas
Vão bem com estes burrinhos descadeirados.
A madrugada ingênua parece feita para eles . . .
Pequenina, ingênua miséria!
Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis!

—Eh, carvoero!

Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado,
Encarapitados nas alimárias,
Apostando corrida,
Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos desamparados.


MANUEL BANDEIRA

Tópicos de Gramática: Sintaxe (Parte I)

1. Frase

É todo enunciado de sentido completo. É todo enunciado capaz de estabelecer comunicação. A frase é formada por unidades comunicativas que expressam ideias, emoções, apelos... Unidades que, portanto, expressam comunicação. Elas podem ser nominais ou verbais.

2. Oração

Oração é a frase que contém um verbo (ou locução verbal), e que se organiza aos redor de um verbo (ou locução verbal).
O número de orações de uma frase é igual ao número de verbos (ou locuções verbais) que esta frase contém.

-A oração pode ser constituída por um só verbo.
-A oração pode ser constituída por uma locução verbal.

3. Período

Chamamos de período a frase constituída por uma ou mais orações, formando um todo, com sentido completo.
Período é a frase organizada com uma ou mais orações, podendo ser simples ou composto.

Falha de Comunicação (Autoria desconhecida)

Num país socialista, onde a natalidade era importante, o Presidente instituiu uma lei que obrigava os casados a terem o maior número possível de filhos e dava uma tolerância de 5 anos. Aqueles que não conseguissem, teriam um agente colaborador. E assim foi o diálogo de um casal interessado na Lei.

M - Querido, hoje completamos o quinto aniversário de casamento.
H - É, infelizmente não tivemos o herdeiro.
M - Será que vão enviar o tal agente...
H - Não sei. Se ele vier, eu não tenho nada a fazer.
M - Eu menos ainda!
H - Vou sair, estou atrasado para o trabalho.
                          ... Logo após a saída do marido, batem à porta, e a mulher abrindo-a encontra um homem à sua frente. Era um fotógrafo que se enganara de endereço...
Fotógrafo - Bom dia, eu sou...
Mulher - Há... já sei! pode entrar.
F - Seu marido está em casa?
M - Não, ele foi trabalhar, mas está a par de tudo e... concorda.
F - Ótimo! Então vamos começar...
M - Mas assim tão rápido?!...
F - Preciso ser breve, pois ainda tenho 6 casas para visitar.
M - Puxa!... E o senhor aguenta?
F - Aguento, pois gosto muito do meu trabalho. Sinto muito prazer com ele.
M - Então vamos fazer.
F - Permita-me sugerir: uma no quarto, duas no tapete, uma no corredor, duas na cozinha e a última no quintal.
M - Nossa! Não é muito?
F - Minha senhora, na minha profissão, nem o melhor artista consegue na primeira tentativa. É tentar muitas vezes para acertar em cheio.
M - O senhor já visitou alguma casa neste bairro?
F - Não, mas trago comigo algumas amostras do meu trabalho. Veja... (mostrando fotos de crianças) não são lindas?
M - Como são lindos estes bebês! É trabalho seu?
F - Sim, veja este aqui. Foi conseguido na porta de um supermercado.
M - Nossa, não lhe parece um lugar bastante público?!
F - Sim, mas a mãe era artista de cinema e queria publicidade.
M - Eu não teria coragem de fazer isto.
F- Este aqui foi em cima de um ônibus. Dureza, sabe, senhora!
M - Imagino.
F - Este aqui foi num parque de diversões, em pleno movimento.
M - Puxa!... Como é que o senhor conseguiu?
F - Não foi fácil, sabe. Se não fossem os guardas tirarem os curiosos de cima, nós não teríamos terminado. E tem outros mais. Um no Circo, na igreja, na loja...
M - Ainda bem que sou discreta. Não quero que ninguém veja.
F - Então, se me dá licença... Vou armar o tripé.
M - Tripé?... Para que?
F - Bem, madame. É necessário, pois o meu aparelho além de ser pesado, depois de pronto, mede um metro.
            A MULHER DESMAIOU...



AUTORIA DESCONHECIDA




O palácio da aventura (Antero de Quental)

Sonho que sou um cavaleiro andante.
Por desertos, por sóis, por noite escura.
Paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura!

Mas já desmaio, exausto e vacilante,
Quebrada e espada já, rota e armadura...
E eis que súbito o aviso fulgurante
Na sua pompa e aérea formosura!

Com grandes golpes bato à porta e brado:
Eu sou o vagabundo, o Deserdado...
Abrir-vos, portas d'ouro, ante meus ais!

Abrem-se as portas d'ouro, com fragor...
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão - e nada mais!

ANTERO DE QUENTAL

Tormento do Ideal (Antero de Quental)

Conheci a Beleza que não morre
E fiquei triste. Como quem da serra
Mais alta que haja, olhando aos pés a terra
E o mar, vê tudo, a maior nau ou torre,

Minguar, fundir-se, sob a luz que jorre;
Assim eu vi o mundo e o que ele encerra
Perder a cor, bem como a nuvem que erra
Ao pôr do sol e sobre o mar discorre.

Pedindo à forma, em vão, a idéia pura,
Tropeço, em sombras, na matéria dura,
E encontro a imperfeição de quanto existe.

Recebi o batismo dos poetas,
E assentado entre a formas incompletas,
Para sempre fiquei pálido e triste.

ANTERO DE QUENTAL

Século de Progresso (Noel Rosa)

A noite estava estrelada
Quando o samba se formou.
A lua veio atrasada
E o samba começou.
Entretanto, ali perto,
Morria um tiro certo
Um valente muito sério,
Professor dos desacatos,
Ensinava aos pacatos,
O rumo do cemitério.
Chegou alguém apressado
Naquele samba animado
Que, cantando, assim dizia:

No século do progresso
O revólver teve ingresso
Pra acabar com a valentia

NOEL ROSA