sexta-feira, 22 de julho de 2011

O conto na Internet

Os avanços tecnológicos, o da Internet principalmente, abriram novas fronteiras para os autores e leitores. Muitas vezes, eles se confundem nesse mágico universo virtual, a tal ponto que já ninguém parece saber quem é o autor e quem é o leitor.
Os sites literários ou pseudo-literários abriram as portas para todo aquele que deseja aventurar-se na produção de contos, crônicas e poesias. O conto, principalmente, o de teor erótico, ganha cada vez mais destaque em alguns sites. Estamos na era do hipertexto, abrindo novas possibilidades de criação e de leitura. Sobre o hipertexto, escreve Ramal (2002?)

O que é um hipertexto? Como o próprio nome diz, é algo que está numa posição superior à do texto, que vai além do texto. Dentro do hipertexto existem vários links, que permitem tecer o caminho para outras janelas, conectando algumas expressões com novos textos, fazendo com que estes se distanciem da linearidade da página e se pareçam mais com uma rede. Na Internet, cada site é um hipertexto – clicando em certas palavras vamos para novos trechos, e vamos
construindo, nós mesmos, uma espécie de texto. Na definição de Jay Bolter (1991): "as partes de um hipertexto podem ser agrupadas e reagrupadas pelo leitor".

O conto moderno ganha, com o hipertexto, um novo formato, permitindo uma viagem de múltiplas leituras, podendo o leitor clicar sobre palavras ou frases, procurando novos caminhos, explicações e, em alguns casos, partindo para a tradução ou para uma nova leitura, totalmente diferente.
Contos que pulverizam a norma culta, contos com erros gritantes de ortografia; narrações sem sintaxe, sem tensão, contos que inovam na linguagem, reproduzindo tudo aquilo que acontece nos chats, invadem o espaço virtual. No meio desse mar de assustadoras novidades, alguns contos conseguem resgatar os valores clássicos deste tipo de narração, mexendo com a imaginação, com a emoção, intelecto e sentimentos dos leitores.
Os blogs, por exemplo, estão virando mania mundial, como afirma Mugnol (2005):

Blog é uma espécie de diário virtual. Mas vem deixando de ser coisa de adolescente. Hoje, esses sites são encarados com credibilidade e têm nutrido o impulso criativo de muita gente. É claro que ainda há uma penca de lixo virtual trafegando por aí. [...] Há estimativas de que o fenômeno blog alcance a marca de 53 milhões até o final desse ano. No Brasil, segundo o Ibope/NetRatings só em abril 7 milhões de pessoas acessaram blogs ou fotoblogs. Nesse emaranhado de informação tem gente criando, tem gente experimentando, tem gente ousando. Há e tem gente também aproveitando o espaço como um exercício para a escrita. [...] Augusto Sales, editor da revista literária Paralelos (www.paralelos.org), tem acompanhado de perto a efervescente nova geração de escritores, principalmente no Rio de Janeiro. Para ele, os blogs são uma boa maneira de entender a produção de "jovens autores, aspirantes, jornalistas e toda sorte de gente que escreve."

A explosão dessas narrativas na Internet, invadindo sites, blogs, páginas pessoais e outros espaços virtuais, com certeza modificará o gosto dos leitores, influenciará positiva ou negativamente sua percepção sobre o que é conto. Está acontecendo, sem dúvida nenhuma, uma nova revolução, tão ou mais significativa que a invenção da imprensa ou o espaço cedido pelos jornais, para os contos, no século XIX. Explica Lemos (2002) que:

A emergência dessas páginas pessoais está associada a novas possibilidades que as tecnologias do ciberespaço trazem de liberação do pólo da emissão, diferentemente dos mass media que sempre controlaram as diversas modalidades comunicativas. Esta liberação do emissor (relativa, como toda liberdade, mas ampliada em relação aos mass media) cria o atual excesso de informação, mas também possibilita expressões livres, múltiplas. O excesso, paradoxalmente, permite a pluralização de vozes e, efetivamente, o contato social.

Em outro trecho do seu trabalho, Lemos afirma:

A web está povoada de milhares de sites literários. Esta constatação mostra, evidentemente, a liberação do pólo da emissão, com sites de diaristas comuns ao lado de sites de escritores premiados. O crescimento do material literário na rede pressupõe o reconhecimento do ciberespaço como dinamizador do pólo da emissão, possibilitando a liberdade de disponibilização de textos. Como afirma Moraes, "a facilidade de publicar está na raiz de um fenômeno comunicacional já mencionado: as difusões pela Internet escavam brechas nos controles da grande mídia" (MORAES, 2001, p. 100). Assim, seria fácil descartar os diaristas como exibicionistas doentios - embora entre eles existam alguns - mas outros são excelentes escritores, estando além da mera diarréia de palavras.

Após essa imensa bolha de produção, bolha borbulhante e confusa que amalgama bons e maus textos, o universo literário não será o mesmo. A velocidade da Internet possibilita a criação de uma ponte direta entre o escritor (e também do pseudo-escritor) e os leitores. Instantaneamente eles se comunicam, trocam idéias, discutem narrações, estilos, finais e até criam novas histórias.
Um universo novo abre-se para todos com a inserção do conto no espaço virtual.

3. Pisando no umbral de um novo universo

Das noites impregnadas de medo nas cavernas até o mundo de hoje, com uma aparentemente ilimitada liberdade para alçar vôo e expressar-se, a humanidade avançou, cresceu e ganhou novos meios para expressar seus medos, emoções, pensamentos, sentimentos, futilidades, para posicionar-se perante o mundo, para tentar compreender, interpretar esse universo que nos rodeia e do qual, querendo ou não, fazemos parte.

O conto, como expressão narrativa, acompanhou o homem desde os tempos da oralidade, desde as remotas fogueiras que iluminavam o mundo pré-histórico. Apesar das modas, apesar de que em muitos momentos a poesia, o romance e outras expressões literárias ou artísticas dominaram o panorama cultural, o conto manteve-se forte e firme, mudando a "pele", mudando sua estrutura, modernizando-se, encantando e desencantando toda uma multidão de leitores.
Alguns autores, como Borges, por exemplo, nunca escreveram romances. Suas narrativas foram praticamente só contos, sem esquecer seus brilhantes ensaios. Outros teóricos afirmam que o conto ocupará, num futuro não muito distante, o lugar mais alto dentro da literatura mundial.

Por ser breve, sintético, intenso e transmitir, de maneira condensada, sentimentos, emoções e ações, o conto adapta-se perfeitamente à vida moderna, agitada e febril.
Como expressão artística, o conto é de uma singularidade extraordinária. Julio Cortázar comparava o conto a uma fotografia, uma foto instantânea que capta um momento especial da vida. Outros autores falam num simples flash, rápido e perturbador. Essa singularidade, temperada com brevidade, tensão e unicidade, faz com que o conto seja perfeitamente compatível com o homem moderno, expressando desejos, sentimentos, anseios, inquietações.

Independentemente da roupagem com a qual o autor o revista, o conto com alma, com valor literário, alcançará o leitor e estabelecerá um forte vinculo com ele, transformando sua leitura num momento único e sublime.

4. REFERÊNCIAS

CORTÁZAR, J. La casilla de los Morelli. Barcelona (Espanha): Tusquets Editor. 1975.

EPPLE, J. A. Introdução. Disponível em: Acessado em Acessado em 15 de abril de 2006.

SILVA, V. M. A. e. Teoria da literatura. 8ª edição. Coimbra (Portugal): Livraria Almedina, 2000.

VÁZQUEZ, M. Á. Estudio y aplicación de elementos fantásticos en dos cuentos de Cortázar: I - Casa tomada. no. 23, janeiro de 2004. Disponível em Acessado em 14 de abril de 2006.

http://www.artigonal.com/literatura-artigos/o-conto-alguns-aspectos-deste-genero-literario-395289.html

Carlos Higgie. Publicado em: 24/04/2008 artigonal

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