terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Os inventores do avião, fracassos e conquistas

O homem tentou desde os tempos antigos imitar o vôo dos pássaros e finalmente conseguiram graças o avião. No princípio pensavam que bastava ter asas e criou máquinas que chamava ornithopters. Durante séculos houve tímidas tentativas de voar, fracassando total na maioria deles, mas desde o século XVIII o homem começou a experimentar com os balões que foram capazes de se elevar no ar, mas tinha a desvantagem de não serem controlados.

Segundo as crónicas do século XVIII, o primeiro vôo bem sucedido de um balão de ar quente, foi graças ao Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão. Um Português nascido no Brasil na época colonial que conseguiu levantar vôo em um balão, que chamaria Passarola, em 08 de agosto de 1709 na corte de D. João V de Portugal, em Lisboa. Na demonstração, a Passarola subiu cerca de 3 metros acima do solo, deixando os observadores impressionado, e ganhando o apelido de Padre Volador.



Com a invenção do balão dirigível, os inventores começaram a tentar criar uma máquina mais pesada que o ar, era capaz de voar por meios próprios. Primeiro vieram os planadores, máquinas capazes de sustentar vôo controlado por algum tempo. Em 1799, George Cayley, um inventor Inglês, desenhou um planador relativamente moderno, que tinha uma cauda para controle, e um lugar onde o piloto pode ser posicionado abaixo do centro de gravidade do aparelho, dando assim estabilidade à aeronave. Cayley construiu um protótipo, que realizou seu primeiro vôo não-tripulado em 1804.

No século XIX, foram feitas tentativas de produzir um avião decolando por seus próprios meios. Mas a maioria deles eram de má qualidade, construídos por pessoas interessadas em aviação. Mas nenhum tinha os conhecimento dos problemas que solucionaram Lilienthal e Chanute.



Foram os irmão Wilbur e Orville Wright, que conseguiram desenvolver o primeiro avião no início do século XX, ou seja, o primeiro avião funcional, como esboços de sonhadores já existiam antes na história, como os de Leonardo da Vinci. Essa façanha foi realizada em 17 de dezembro de 1903. O avião se chamou Flyer. Então Kitty Hawk (Carolina do Norte), uma vez que naquela cidade fez o primeiro vôo. Então, mais tarde passou a desenvolver duas outras aeronaves, que foram batizadas como Flyer Flyer II e III.


Fundamentalmente, as mais modernas aeronaves de hoje seguem sendo construídas com base nos mesmos elementos que permitiram que os irmãos Wright e de Alberto Santos Dumont realizassem o primeiro voo no início do século XX: as asas que suportam o peso da aeronave e sua carga, as superfícies de cauda que servem para dar equilíbrio e direção. Usando controles apropriados, conseguimos variar a posição de algumas superfícies para que o avião suba, abaixe ou vire de um lado para outro.

Referências:

BULHUFAS, Blogue. Os inventores do avião, fracassos e conquistas. In: Quem Inventou. Artigo. Blog. Bulhufas.com, 2011.

Imagens: Google Images.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Vícios de linguagem

A gramática é um conjunto de regras que estabelece um determinado uso da língua, denominado norma culta ou língua padrão. Acontece que as normas estabelecidas pela gramática normativa nem sempre são obedecidas, em se tratando da linguagem escrita.  O ato de desviar-se da norma padrão no intuito de alcançar uma maior expressividade, refere-se às figuras de linguagem. Quando o desvio se dá pelo não conhecimento da norma culta, temos os chamados vícios de linguagem.


a) barbarismo: consiste em grafar ou pronunciar uma palavra em desacordo com a norma culta.
pesquiza (em vez de pesquisa)
prototipo (em vez de protótipo)


b) solecismo: consiste em desviar-se da norma culta na construção sintática.
Fazem dois meses que ele não aparece. (em vez de faz ; desvio na sintaxe de concordância)


c) ambiguidade ou anfibologia: trata-se de construir a frase de um modo tal que ela apresente mais de um sentido.
O guarda deteve o suspeito em sua casa. (na casa de quem: do guarda ou do suspeito?)


d) cacófato: consiste no mau som produzido pela junção de palavras.
Paguei cinco mil reais por cada.



e) pleonasmo vicioso:  consiste na repetição desnecessária de uma ideia.
O pai ordenou que a menina entrasse para dentro imediatamente.
Observação: Quando o uso do pleonasmo se dá de modo enfático, este não é considerado vicioso.



f) eco: trata-se da repetição de palavras terminadas pelo mesmo som.
O menino repetente mente alegremente.

CABRAL, Marina. Vícios de Linguagem. Gramática. Língua Portuguesa. Equipe Brasil Escola, 2012.

Expressões idiomáticas

Conceituam-se como expressões idiomáticas aquelas que, perante os estudos linguísticos, são destituídas de tradução. Pode considerar-se que fazem parte daquilo que chamamos de variações da língua, uma vez que retratam traços culturais de uma determinada região. Dotadas de um evidente grau de informalismo são geradas por meio das gírias e tendem a se perpetuar ao longo de toda uma geração.

Desta forma, ao analisarmos as imagens que seguem constatamos que estas nos remetem a dizeres já bastante conhecidos e até “cristalizados” no tempo. Observemos, pois: 

Assim, já ouvimos muitas que “fulano engoliu um sapo”, ou que “fulano pisou na bola”. Estas, assim como tantas outras revelam um discurso específico, uma vez que “engolir um sapo” significa receber uma “bronca” e “pisar na bola” revela uma atitude considerada inaceitável”. 

No intuito de aprofundarmos ainda mais nossos conhecimentos no que tange a este assunto, analisemos alguns casos representativos:

Armar um barraco – criar uma confusão em público.
Ao pé da letra – literalmente. 
Arregaçar as mangas – dar início a uma determinada atividade.
Bater as botas – falecer.
Boca de siri – manter um segredo referente a um determinado assunto.
Cara de pau – descarado, sem-vergonha.
Chutar o balde/chutar o pau da barraca – perder o controle, a calma. 
Descascar o abacaxi – resolver um problema complicado. 
Encher linguiça – enrolar, ocupar o tempo por meio da embromação.
Lavar as mãos – não se envolver com um determinado assunto.
Pé na jaca – cometer excessos (enfiar o pé na jaca). 
Quebrar o galho – improvisar. 
Segurar vela – atrapalhar o namoro. 
Trocar as bolas – atrapalhar-se. 
Trocar os pés pelas mãos - agir de modo desajeitado, apressadamente.

DUARTE, Vânia. Expressões idiomáticas. Gramática. Língua Portuguesa. Equipe Brasil Escola, 2012.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O Homem Nú - Fernando Sabino

Ao acordar, disse para a mulher:

— Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o sujeito com a conta, na certa.  Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum.

— Explique isso ao homem — ponderou a mulher.

— Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém.   Deixa ele bater até cansar — amanhã eu pago.

Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão.  Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.

Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos:

— Maria! Abre aí, Maria. Sou eu — chamou, em voz baixa.

Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro.

Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente os andares...  Desta vez, era o homem da televisão!

Não era. Refugiado no lanço da escada entre os andares, esperou que o elevador passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mãos nervosas o embrulho de pão:

— Maria, por favor! Sou eu!

Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares, vindos lá de baixo... Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embrulho na mão, parecia executar um ballet grotesco e mal ensaiado. Os passos na escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o elevador, apertou o botão. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a empregada passava, vagarosa, encetando a subida de mais um lanço de escada. Ele respirou aliviado, enxugando o suor da testa com o embrulho do pão.

Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele começa a descer.

— Ah, isso é que não!  — fez o homem nu, sobressaltado.

E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em pêlo, podia mesmo ser algum vizinho conhecido... Percebeu, desorientado, que estava sendo levado cada vez para mais longe de seu apartamento, começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autêntico e desvairado Regime do Terror!

— Isso é que não — repetiu, furioso.

Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares, obrigando-o a parar.  Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar o botão do seu andar. Lá embaixo continuavam a chamar o elevador.  Antes de mais nada: "Emergência: parar". Muito bem. E agora? Iria subir ou descer?  Com cautela desligou a parada de emergência, largou a porta, enquanto insistia em fazer o elevador subir. O elevador subiu.

— Maria! Abre esta porta! — gritava, desta vez esmurrando a porta, já sem nenhuma cautela. Ouviu que outra porta se abria atrás de si.

Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no batente e tentando inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era a velha do apartamento vizinho:

— Bom dia, minha senhora — disse ele, confuso.  — Imagine que eu...

A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um grito:

— Valha-me Deus! O padeiro está nu!

E correu ao telefone para chamar a radiopatrulha:

— Tem um homem pelado aqui na porta!

Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se passava:

— É um tarado!

— Olha, que horror!

— Não olha não! Já pra dentro, minha filha!

Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para ver o que era. Ele entrou como um foguete e vestiu-se precipitadamente, sem nem se lembrar do banho. Poucos minutos depois, restabelecida a calma lá fora, bateram na porta.

— Deve ser a polícia — disse ele, ainda ofegante, indo abrir.

Não era: era o cobrador da televisão.


SABINO, Fernando. O homem nú. Extraída do livro de mesmo nome, Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág. 65. Disponível em: <http://www.releituras.com/fsabino_homemnu.asp>

PROTESTOS ABRINDO O VERÃO (Paródia)

PROTESTOS ABRINDO O VERÃO
Autor: Alessandro de Oliveira Arantes
Paródia da música: Águas de março (Tom Jobim)

É bomba, é pedra, é o pau do caminho
É um resto de placa, é um toco caindo
É um caco de vidro, é o povo, é o sol
É a noite, é a morte, é a revolta, é o caos
É o povo do campo, é o da casa de madeira
O cara da roça, do roço, ou da urbe, que nem leão.

É madeira ao vento, é o povo na ribanceira
É a revolta profunda, quer queira ou não queira
É o vento ventando, antes do fim da ladeira
É com viga no vão, no meio da pista, festa da revolução
É a chuva chovendo, e protesto rolando
Contra o desgosto e desmandos, pedindo o fim da roubalheira

É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Bandeira na mão, pedra e atiradeira
É um avião no céu, é uma carro no chão
É o governo chegando, desfilando na frente, com seu carrão
Mesmo no fundo do poço, perto do fim do caminho
No rosto o sorriso, é um pouco disfarce

É uma máscara, é um lata, é uma ponta, é um pau
É um pingo , pingando, é a chuva chegando, e molhando
É um rio, é um grito, é um raio brilhando
Em plena luz da manhã, são os tijolos chegando
É a chapa, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada
É o projeto do estádio, é o corpo na maca
É o carro enguiçado, que inflama, inflama

É um carro, é uma ponte, é um avião, é um urubu
É um resto de cerca, na luz da manhã
São os protestos da copa abrindo o verão
Se revoltando com o governo, sendo um cidadão.

É uma bandeira, é um pau, é Paulão, é José
É uma câmera mão, é um tênis no pé
São os protestos da copa abrindo o verão
Se revoltando com o governo, sendo um cidadão.

É uma máscara, é um lata, é uma ponta, é um pau
É um pingo, é a chuva, e o esgoto estourando
É um rio, são os carros, boiando na estrada
É um passo, é uma ponte, esgoto saindo
Trilho quebrando, lixo na via,
É uma picaretagem, é uma má administração

São os protestos da copa abrindo o verão
Se revoltando com o governo, sendo um cidadão,
Correndo atrás dos direitos de um cidadão.