domingo, 7 de abril de 2013

7º ano - Assuntos das aulas passadas


1.    TEXTO POÉTICO OU GÊNERO LÍRICO (p. 11-24)


  • São todos aqueles textos que são escritos com um objetivo, e que seguem uma métrica própria, sendo escritos normalmente em versos, possuindo uma estética própria do estilo.
  • Este gênero retrata algo em que tudo pode acontecer.
  • Esta forma de poesia existe a mais de 3.000 anos, tendo sido registrada desde a Índia, especificamente nos vedas.

1.1.  GÊNEROS POÉTICOS


  • São classificações que permitem diferenciar determinados textos poéticos, cada um com suas características 
  • São divididos em: Poema épico, lírico e dramático.
  • Todas as poesias costumam usar um padrão de linguagem, um registro que varia de acordo com o autor, extrapolando ou não os usos padrões da língua, sendo a palavra sua matéria-prima, onde ele pode romper com certos padrões da língua.

1.1.1.      Poema Épico


  • É o texto narrativo, de longa duração, eloquente, que aborda temas como: guerras, viagens, situações externas, onde se destaca a epopeia.


Exemplo: Caramuru: Santa Rita Durão
CANTO I
I
De um varão em mil casos agitado,
Que as praias discorrendo do Ocidente,
Descobriu o Recôncavo afamado
Da capital brasílica potente:
Do Filho do Trovão denominado,
Que o peito domar soube à fera gente;
O valor cantarei na adversa sorte,
Pois só conheço herói quem nela é forte.
Fonte: http://virtualbooks.terra.com.br/freebook/port/caramuru_poema_epico.htm



1.1.2.      Poema 


  • Texto curto, de momento, que retrata flashs de vida, momentos vividos, um instante emocional, sendo uma expressão de sentimentos;
  • A poesia é o que dá emoção ao texto.
  • O poema é a forma que se está escrito o texto.

Exemplo:
POEMA LÍRICO
(fragmento)

No meu poema lírico
a noite vestia-me de solidão
e a morte falava na voz do vento
com inumeráveis bocas de sombra.
Envolvia numa linguagem de silêncio
o amado corpo de anêmona da amada.
O mar era uma canção molhada em seus ouvidos,
verde sonolência em seus olhos.
Uma rosa demente de sol
gorjeava nas trevas repousadas
dos cabelos da amada no meu poema lírico.
Vi o pássaro mensageiro de tempestades,
anunciador de eclipses da lua,
incendiário de primaveras
e cantei sua morte prematura
num epitáfio de vôos e distâncias.
Janeiro chegava bêbado de azul
nas crinas de um soneto
que rimava tarde com arde
no meu poema lírico.
A rosa estava morta na mesa,
fria, intacta, alheia
ao olhar que a consumia,
à mão que lhe feria a carne,
à boca que a chamava rosa.
Rosa: ilha, incêndio, canção
no meu poema lírico.
                                                Luís Carlos Guimarães

1.1.3.      Poema Dramático

  • Texto longo, de estética teatral, que expõe de forma forte, sentimentos e detalhes de alguém, sendo uma forma narrativa que se figura ou imita a ação direta dos indivíduos, através de encenação;
  • Pode ser em prosa ou versos, onde ocorrem os conflitos ou atritos, podendo ser um conto ou uma novela, romance, etc.


Exemplo:
Poema dramático

vou deixar
meu coração sangrar

até cessar o sangue
até dissipar os sonhos
até secar o pranto
até cerrar as possibilidades
até destronar todo o encanto!

vou deixar
meu coração sangrar

para flertar com o desconhecido
para prolongar o perigo
para derramar a última lágrima
para esparramar o sofrimento
para desmembrar razões emblemáticas!

vou deixar
meu coração sangrar

para enganar o ranço
para seduzir o inalcançável
para ludibriar a angústia
para descompor a solidão
para infringir coisas lúdicas
para intimidar toda forma de NÃO!

Marcos Leonidio


ATIVIDADES:
Atividade #1: Trazer um exemplo de cada tipo de poema, um de cada.
Trabalho #1: Criar um texto poético que siga uma das três propostas, podendo a narrativa ser lírica, dramática ou épica.

1.2.  MÉTRICA DO TEXTO

  •  É toda medida do verso, esse estudo é chamado de escansão, que é a contagem dos sons.
  • As sílabas poéticas são diferentes das gramaticais em alguns aspectos,
  • São contadas até a última sílaba tônica (que soa mais forte que as demais), na palavra que ela vier.

1.2.1.      Tipos de versos

Monossílabos: são aqueles que possuem apenas uma sílaba
Dissílabos: possuem duas sílabas
Trissílabos: possuem três sílabas
Tetrassílabos: possuem quatro sílabas
Pentassílabos ou redondilha menor: possuem cinco sílabas
Hexassílabos ou heroico quadrado: possuem seis sílabas
Heptassílabos ou redondilha maior: possuem sete sílabas
Octossílabos: possuem oito sílabas
Eneassílabos: possuem nove sílabas
Decassílabos: possuem dez sílabas
Hendecassílabos: possuem onze sílabas
Dodecassílabo: possuem doze sílabas
Bárbaro: possuem treze sílabas

  • Não se contam as sílabas poéticas que estejam após a últimas sílaba tônica do verso;
  • Ditongos tem valor de uma só sílaba poética;
  • Duas ou mais vogais, átonas ou até tônicas, podem fundir-se entre uma palavra ou outra, formando uma só sílaba poética.

Exemplo:

E como eu passasse por diante do espelho

Escansão das sílabas gramaticais

E / co/mo / eu /pa/sas/se/ por /di/an/te /do/ es/pe/lho
1   2     3     4    5   6   7    8     9 10 11 12  13 14 15

Escansão das sílabas poéticas
                                                                       Ultima sílaba tônica
E / co/mo  eu /pa/as/sse/ por /dian/te /do  es/pe/lho
1    2    3          4   5   6     7    8      9  10        11

*    Esse verso é classificado com hendecassílabo, por possuir 11 sílabas poéticas.
*    Também possui ligaduras ou legatos, que servem para ligar as vogais de sílabas separadas durante a escansão.
*    As sílabas são contadas até a últimas sílaba que soa mais forte, ou seja, tônica.


ATIVIDADES:
Atividade #2: Fazer uma escansão do poema Tempo Perdido, e classificar os versos quando a quantidade de sílabas poéticas.
Leitura: Leitura oral dos textos Tempo Perdido e Tempestade

1.3.  RIMA E VERSIFICAÇÃO

  • As rimas ocorrem quando há repetição sonora numa estrofe, podendo ela surgir no início, meio ou fim dos versos.
  • Podem ser organizadas segundo a posição na estrofe;
  • Elas podem ser: cruzadas/alternadas; interpoladas/intercaladas; emparelhadas; encadeadas/internas; misturadas; ou versos brancos.

1.3.1.      Classificação das rimas

Rima externa: é toda repetição de sílabas que ocorrem no fim dos versos, onde a sonoridade aparece no final, criando certo eco musical, é a rima mais comum.
Rima interna: é toda repetição que ocorre dentro da estrofe, sendo elas menos comuns.

1.3.2.      Classificação das rimas internas e externas

Rima cruzada ou alternada: é quando o primeiro verso da estrofe rima com o terceiro, e o segundo com o quarto.
Exemplo:
Estou sem televisão                            A
No jornal fico coma notícia                B
No rádio ouço a informação              A
Melhor sendo notícia do dia               B

Rima interpolada ou intercalada: é muito usada em sonetos, quando o 1º verso rima com o 4º, e o 2º com o 3º.
Exemplo:
No andar da carruagem afora            A
Vendo os pardais nos galhos verdes   B
Voando sem parar no azul do céu      C
Colorindo a paisagem afora               A

Rima emparelhada: quando o 1º verso rima com o 2º, e o 3º com o 4º.
Exemplo:
Observando o pôr-do-sol afora                     A
No horizonte colorido lá fora             A
Voando no visual das tardes celestes  B
O belo voar dos pássaros verdes                    

Rima encadeada ou interna: quando rimam palavras que estão no fim do verso e no interior do verso.
Exemplo:
O carro azul desceu a ladeira                         A; B
Com uma lareira na mala                              B; C
Onde escolheu parar enfrente ao portão        A;D
Com a mala, para entrar em casa                  C; D

Rima misturada: são aquelas que não possuem ordem determinada entre as rimas.
Versos brancos: são aqueles que não possuem rimas, sendo eles versos soltos.


ATIVIDADES:
Atividade #3: Analisar o texto Tempestade, e marcar as rimas existentes no texto, para depois classificar-las
Trabalho #2: Elaborar um texto poético usando as rimas, no mínimo duas estrofes.

1.4.  TEMPO DA NARRATIVA

  • É a sequência de fatos que ocorrem em um determinado tempo, podendo ser cronológico ou psicológico.
  • Tempo cronológico: é a sequência linear dos fatos que são contados de acordo com os acontecimentos, mas também pode ocorrer de haver uma interrupção temporária nessa linearidade, é o chamado flashback.
  • Flashback: é a técnica que consiste em resgatar memórias e acontecimentos passados, através de uma interrupção que ocorre no texto.


Exemplo:
Texto que ocorre o uso do tempo cronológico:

 - Já vou indo - respondeu o menino enquanto removia a água da boca. Voltou-se para o cachorro. E seu rostinho pálido se confrangeu de tristeza. Por que Biruta não se emendava, por que? Por que razão não se esforçava um pouco para ser melhorzinho? Dona Zulu já andava impaciente. Leduína também. Biruta fez isso, Biruta fez aquilo...
  Lembrou-se do dia em que o cachorro entrou na geladeira e tirou de lá a carne. Leduína ficou desesperada, vinham visitas para o jantar, precisava encher os pastéis, "Alonso, você não viu onde deixei a carne?" Ele estremeceu. Biruta! Disfarçadamente, foi à garagem no fundo do quintal, onde dormia com o cachorro num velho colchão metido num ângulo de parede. Biruta estava lá deitado bem em cima do travesseiro, com a posta de carne entre as patas, comendo tranquilamente. Alonso arrancou-lhe a carne, escondeu-a dentro da camisa e voltou à cozinha. [...]
Isso tinha acontecido há duas semanas. E agora Biruta mordera a carteirinha de Leduína. E se fosse a carteira de dona Zulu?
Conto extraído de: TELLES, Lygia Fagundes. Histórias escolhidas. São Paulo: Boa Leitura Editora, 1961.

  • Tempo psicológico: é aquele que usa as impressões pessoais de cada um, expressando as sensações dos personagens, em relação à duração de tempo (acontecimentos), criando a ilusão de que é algo extenso.


Exemplo:
Texto que ocorre o uso do tempo psicológico:

O Espelho
Mario Quintana

E como eu passasse por diante do espelho
não vi meu quarto com as suas estantes
nem este meu rosto
onde escorre o tempo.

Vi primeiro uns retratos na parede:
janelas onde olham avós hirsutos
e as vovozinhas de saia-balão
Como pára-quedistas às avessas que subissem do  fundo do tempo.

O relógio marcava a hora
mas não dizia o dia. O Tempo,
desconcertado,
estava parado.

Sim, estava parado
Em cima do telhado...
Como um catavento que perdeu as asas!

1.4.1.      Características básicas dos dois tempos

  • No caso do tempo cronológico, ele possui ambientação em que o leitor nota certa ordem no texto, que os fatos seguem um intervalo de tempo regular.
  • No tempo psicológico, essa ordem é aleatória, e ambientação que exprime sensações ao leitor, sentimentos e desejos, além de um diálogo entre os pensamentos da personagem.
  • Essas técnicas são comumente aplicadas em contos, crônicas, romances e textos poéticos, sendo uma das técnicas que caracteriza a ambientação e a ordenação do texto.

ATIVIDADES:
Trabalho #3: Construir um texto que narre uma história, seguindo uma sequência cronológica, e que empregue a técnica do flashback. Procure ordenar o texto em versos ou em prosa.


1.5.  FIGURAS DE ESTILO

  • São as figuras que o autor usa para criar efeitos de sentido no texto, e dar a ele um estilo próprio ao texto composto pelo o autor. Dentre as figuras de linguagem, as figuras de estilo são as mais utilizadas, dentre elas destacamos: Aliteração, Personificação ou prosopopeia, Metáfora e Hipérbole.
1.5.1.      Aliteração

  • É o recurso linguístico que possibilita ao compositor, criar uma sensação de repetição sonora (eco) no texto, diferente da rima, esta permite destacar uma ideia principal, que ecoará no texto, dando pistas ao leitor do que o texto se trata.
Exemplo:
O tempo é algo lento
Que passa ao relento
Do tempo que volta e meia lento
De um despertar do relento

1.5.2.      Personificação e prosopopeia

  • É a figura que consiste em atribuir a objetos inanimados ou seres irracionais, sentimentos, ações ou características próprias do ser humano.
  • Sendo elas mais usadas na literatura fantástica e infanto-juvenil.

Exemplo:

A águia desceu do céu e falou ao jacaré:
- Por que você fica o dia inteiro na água?
Aí o jacaré respondeu:
- Estou descansando e vigiando, procurando poupar energia para caçar.

1.5.3.      Metáfora

  • É a palavra ou expressão que produz sentidos figurados, por meio de comparações implícitas, sem a conjunção comparativa, sendo uma comparação que não usa conectivo.

Exemplo:

Zé Luiz é um cidadão alto que nem poste, calmo como uma preguiça, pálido como um suricato, mas invejoso que nem a mulher do meu vizinho, parecendo um homem das cavernas.

1.5.4.      Hipérbole

  • É o recurso de estilo que consiste em usar termos que expressem uma ideia exagerada de algo.

Exemplo:

Francisco pescou um peixe grande, azul intenso, e que parecia um elefante de tão pesado e grande, pesando quase uma tonelada, causando surpresa de quem olhava, e abasteceu a cidade por um mês.

ATIVIDADES:

Atividade #4: Leitura e intepretação do texto: Queimadas no Brasil, Lv, p.26-27, onde após a leitura, vocês deverão elaborar 5 (cinco) questões com resposta acerca das ideias do texto.

Seminário: Construir um texto empregando o recurso das rimas, onde o grupo irá ambientar o texto em um dos gêneros poéticos (lírico, épico ou dramático), procurando contar ou expor algo em versos ou em prosa, com um tempo da narrativa (cronológico ou psicológico) definido, seguindo a seguinte ordem de composição do texto:

Introdução (abertura do texto, é o início da história, onde o narrador começa a contar a história, para poder os personagens aparecerem)
Desenrolar (onde ocorrem os fatos e acontecimentos)
Clímax (ponto mais alto da história)
Desfecho (onde os fatos começam a ter um final)
Fechamento (conclusão, onde são encerradas as participações e a narração)
O texto pode ter um ou mais personagens, com o enredo e história a serem definidas pelo grupo.

Apresentação:
-Expor o texto oralmente, onde cada um do grupo deverá participar, contribuindo na apresentação.
-Data de apresentação a ser definida, prazo para elaboração do trabalho e apresentação: 10 dias úteis.

2.    LINGUAGEM REPRESENTATIVA 
  • É tipo de linguagem que representa algum nome, frase ou expressão verbal, sendo ela uma simplificação, onde usa partes das palavras, reduzindo-as a uma única palavra.
  • Podem se manifestar através das siglas, abreviação ou slogan.

1.1.1.      Sigla

  • É tipo de linguagem que substitui algum nome, frase ou expressão verbal, por letras que simbolizam o nome original de algo.
  • São usadas em partidos políticos, agremiações, governos, instituições escolares, universitárias, não governamentais, ONGs, nomes de impostos, bancos, cursos, etc.

Exemplos:
UFRN, IESP, IFRN, PETROBRÁS, CTGÁS, UECE, PROMIMP, PRTB, ISS, CBTU, INTERNET, SENAI, OMS, CTG, PT, DEM, OMC, IPVA, MERCOSUL, PSC, PETROSUR, PDVSA, IPI, INPE.

1.1.2.      Abreviação

  • São palavras que simplificam algum nome, sendo ela uma simplificação de uma palavra, também pode representar alguma titulação, cargo, ou função.

Exemplos:
Vs.Ex. Adj. Max. Dr. Ms. Esp. Profº. Adv. Chanc. Cont. a.C. AA. Academ. Princ.

1.1.3.      Slogan

  • São frases ou enunciações que representam alguma instituição, onde são usadas para exaltar alguma característica da mesma. Também podem ser usadas para memorizar algo que ela quer expor, seja um produto ou serviços, com uma ideia ou propósito pré-determinado, sendo uma frase de efeito muito comum no comércio e empresas.

Exemplos:
"Lojas Marabraz - Preço menor ninguém faz"
"De mulher pra mulher - Marisa"
"Ultragaz - A chama que satisfaz!"

ATIVIDADES:
Atividade #5: Pesquisar exemplos de siglas e logomarcas que usem essas siglas.
Atividade#6: Pesquisar exemplos de slogans de empresas, comércios, bandas e etc.

3.    CONCORDÂNCIA NOMINAL 

  • A concordância nominal se dá pela relação entre um substantivo, pronome ou mesmo numeral substantivo e as demais palavras que a eles se ligam para caracterizá-los - sejam artigos, pronomes adjetivos, numerais adjetivos e adjetivos.
  • Em geral pode-se dizer que artigo, o adjetivo e o numeral devem concordar em gênero (masculino/feminino) e número (singular/plural) com o substantivo a que se refere.

Aplicação

Leia a frase abaixo e observe as inadequações:

Aqueles dois meninos estudioso leram livros antigo.

  • Note que as inadequações referem-se aos desajustes entre as palavras que a constituem. Para que a frase concorde, adequadamente, entre todos os termos, é necessário: Aquele concordar com a palavra dois; Estudioso concordar com meninos; Antigo concordar com livros. Fazendo-se os ajustes necessários a frase ficará assim:
  • Aqueles dois meninos estudiosos leram os livros antigos.

ATIVIDADES:
Atividade #7: Pág. 33, lv. c)


4.    GENÊROS TEXTUAL REPORTAGEM  

3.1.  Aspectos Básicos

  • A reportagem é um dos principais gêneros de caráter informativo que possibilita o leitor a obter novo saberes. Elas se estruturam de várias maneiras diferentes, também podem variar conforme os veículos em que elas são divulgadas sejam por revistas, documentários, blogs e sites, diários de notícias, ou rádio.

3.2.  Estrutura da reportagem

  • As reportagens são estruturadas de modos diferentes, mas seguindo um formato implícito.
  • Elas são elaboradas a partir das fontes, que são enviadas por colaboradores, através de repórteres ou correspondentes, de onde o fato ocorre.
  • O texto final é o resultado dessa colaboração.


3.3.  Linguagem empregada

  • As reportagens usam uma linguagem que cita um discurso, podendo eles ser de duas formas: diretamente ou indiretamente, semelhante às linguagens vistas, quando o redator cita diretamente um depoimento, ele praticamente reproduz a fala da pessoa, quando relata com suas palavras, ou escolhe palavras para representar o seu modo de dizer, ele estará sendo parcial, ou seja, não está sendo fiel a realidade.

3.4.  Aplicações

  • São usadas no dia-a-dia, principalmente em telejornais, que servem para expor algum fato de forma trabalhada, e atenta aos detalhes, visando informar o leitor sobre o evento.

ATIVIDADES:
Atividade #8: Pág. 33-35, lv. c)
Trabalho: Fazer um texto de uma reportagem, que exponha algum fato ocorrido em sua localidade.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Biruta (Lygia Fagundes Telles)


Alonso foi para o quintal carregando uma bacia cheia de louça suja. Andava cm dificuldade, tentando equilibrar a bacia que era demasiado pesada para seus bracinhos finos.
  - Biruta, eh, Biruta! - chamou sem se voltar.
O cachorro saiu de dentro da garagem. Era pequenino e branco, uma orelha em pé e a outra completamente caída.
  - Sente-se aí, Biruta, que vamos ter uma conversinha - disse Alonso pousando a bacia ao lado do tanque. Ajoelhou-se, arregaçou as mangas da camisa e começou a lavar os pratos.
  Biruta sentou-se muito atento, inclinando interrogativamente a cabeça ora para a direita, ora para a esquerda, como se quisesse apreender melhor as palavras do seu dono. A orelha caída ergueu-se um pouco, enquanto a outra empinou, aguda e ereta. Entre elas, formaram-se dois vincos, próprios de uma testa franzida do esforço de meditação.
  - Leduína disse que você entrou no quarto dela - começou o menino num tom brando. - E subiu em cima da cama e focinhou as cobertas e mordeu uma carteirinha de couro que ela deixou lá. A carteira era meio velha e ela não ligou muito. Mas se fosse uma carteira nova, Biruta! Se fosse uma carteira nova! Me diga agora o que é que ia acontecer se ela fosse uma carteira nova!? Leduína te dava uma surra e eu não podia fazer nada, como daquela outra vez que você arrebentou a franja da cortina, lembra? Você se lembra muito bem, sim senhor, não precisa fazer essa cara de inocente!...
  Biruta deitou-se, enfiou o focinho entre as patase baixou a orelha. Agora, ambas as orelhas estavam no mesmo nível, murchas, as pontas quase tocando o chão. Seu olhar interrogativo parecia perguntar:
"Mas o que foi que eu fiz, Alonso? Não me lembro de nada..."
  - Lembra sim senhor! E não adianta ficar aí com essa cara de doente, que não acredito, ouviu? Ouviu, Biruta?! - repetiu Alonso lavando furiosamente os pratos. Com um gesto irritado, arregaçou as mangas que já escorregavam sobre os pulsos finos. Sacudiu as mãos cheias de espuma. Tinha as mãos de velho
  - Alonso, anda ligeiro com essa louça! - gritou Leduína, aparecendo por um momento na janela da cozinha. - Já está escurecendo, tenho que sair!
  - Já vou indo - respondeu o menino enquanto removia a água da boca. Voltou-se para o cachorro. E seu rostinho pálido se confrangeu de tristeza. Por que Biruta não se emendava, por que? Por que razão não se esforçava um pouco para ser melhorzinho? Dona Zulu já andava impaciente. Leduína também. Biruta fez isso, Biruta fez aquilo...
  Lembrou-se do dia em que o cachorro entrou na geladeira e tirou de lá a carne. Leduína ficou desesperada, vinham visitas para o jantar, precisava encher os pastéis, "Alonso, você não viu onde deixei a carne?" Ele estremeceu. Biruta! Disfarçadamente, foi à garagem no fundo do quintal, onde dormia com o cachorro num velho colchão metido num ângulo de parede. Biruta estava lá deitado bem em cima do travesseiro, com a posta de carne entre as patas, comendo tranquilamente. Alonso arrancou-lhe a carne, escondeu-a dentro da camisa e voltou à cozinha. Deteve-se na porta ao ouvir Leduína queixar-se à dona Zulu que a carne desaparecera, aproximava-se a hora do jantar e o açougue já estava fechado, "o que é que eu faço, dona Zulu?"
  Ambas estavam na sala. Podia entrever a patroa a escovar freneticamente os cabelos. Ele então tirou a carne de dentro da camisa, ajeitou o papel já todo roto que a envolvia e entrou com a posta na mão
  - Está aqui Leduína.
  - Mas falta um pedaço!
  - Esse pedaço eu tirei pra mim. Eu estava com vontade de comer um bife e aproveitei quando você foi na quitanda.
  - Mas por que você escondeu o resto? - perguntou a patroa, aproximando-se
  - Por que fiquei com medo.
Ele ainda tinha bem viva na memória a dor brutal que sentira nas mãos corajosamente abertas para os golpes da escova. Lágrimas saltaram-lhe dos olhos. Os dedos foram ficando roxos, mas ela continuava batendo com aquele mesmo vigor obstinado com que escovara os cabelos, batendo, batendo, como se não pudesse parar mais.
  - Atrevido! Ainda te devolvo pro asilo, seu ladrãzinho!
  Quando ele voltou à garagem, Biruta já estava lá, as duas orelhas caídas, o focinho entre as patas, piscando, piscando os olhinhos ternos. "Biruta, Biruta, apanhei por sua causa, mas não faz mal."
  Biruta então ganiu sentidamente. Lambeu-lhe as lágrimas. Lambeu-lhe as mãos.
  Isso tinha acontecido há duas semanas. E agora Biruta mordera a carteirinha de Leduína. E se fosse a carteira de dona Zulu?
  - Hem, Biruta?! E se fosse a carteira de dona Zulu?
  Já desinteressado, Biruta mascava uma folha seca.
  - Por que você não arrebenta minhas coisas? - prosseguiu o menino elevado a voz. - Você sabe que tem todas as minhas pra morder, não sabe? Pois agora não te dou presente de Natal, está acabado. você vai ver se ganha alguma coisa. Você vai ver!...
  Girou sobre os calcanhares, dando as costas ao cachorro. Resmungou ainda enquanto empilhava a louça na bacia. Em seguida, calou-se, esperando qualquer reação por parte do cachorro. Como a reação tardasse, lançou-lhe um olhar furtivo. Biruta dormia profundamente.
  Alonso então sorriu. Biruta era como uma criança. Por que não entendiam isso? Não fazia nada por mal, queria só brincar... Por que dona Zulu tinha tanta raiva dele? Ele só queria brincar, como as crianças. Por que dona Zulu tinha tanta raiva de crianças?
  Uma expressão desolada amarfanhou o rostinho do menino. "Por que dona Zulu tem que ser assim? O doutor é bom, quer dizer, nunca se importou nem comigo nem com você, é como se a gente não existisse, Leduína tem aquele jeitão dela, mas duas vezes já me protegeu. Só dona Zulu não entende que você é que nem uma criancinha. Ah Biruta, Biruta, cresça logo, pelo amor de Deus! Cresça logo e fique um cachorro sossegado, com bastante pêlo e as duas orelhas de pé! Você vai ficar lindo quando crescer, Biruta, eu sei que vai!"
  - Alonso! - Era a voz de Leduína. - Deixe de falar sozinho e traga logo essa bacia. Já está quase noite, menino.
  Alonso ergueu-se afobadamente. Mas antes de pegar a bacia meteu a mão na água e espargiu-a no focinho do cachorro.
  - Chega de dormir, seu vagabundo!
  Biruta abriu os olhos, bocejou com um ganido e levantou-se, estirando as patas dianteiras, num longo espreguiçamento.
  O menino equilibrou penosamente a bacia na cabeça. Biruta seguiu-o aos pulos, mordendo-lhe os tornozelos, dependurando-se com os dentes na barra do seu avental.
  - Aproveita, seu bandidinho! - riu-se Alonso. - Aproveita que eu estou com a mão ocupada, aproveita!
  Assim que colocou a bacia na mesa, ele inclinou-se para agarrar o cachorro. Mas Biruta esquivou-se, latindo. O menino vergou o corpo sacudido pelo riso.
  - Aí, Leduína que o Biruta judiou de mim!...
  A empregada pôs-se guardar rapidamente a louça. Estendeu-lhe uma caçarola com batatas:
  - Olhaí para o seu jantar. Tem ainda arroz e carne no forno.
  - Mas só eu vou jantar? - surpreendeu-se Alonso ajeitando a caçarola no colo.
  - Hoje é dia de Natal, menino. Eles vão jantar fora, eu também tenho a minha festa. Você vai jantar sozinho.
  Alonso inclinou-se. E espiou apreensivo para debaixo do fogão. Dois olhinhos brilharam no escuro: Biruta estava lá. Alonso suspirou. Era bom quando Biruta resolvia se sentar! Melhor ainda quando dormia. Tinha então a certeza de que não estava acontecendo nada. A
trégua. Voltou-se para Leduína.
  - O que o seu filho vai ganhar?
  - Um cavalinho - disse a mulher. A voz suavizou. - Quando ele acordar amanhã, vai encontrar o cavalinho dentro do sapato dele. Vivia me atormentado que queria um cavalinho, que queria um cavalinho...
  Alonso pegou uma batata cozida, morna ainda. Fechou-a nas mãos arroxeadas.
- Lá no asilo, no Natal, apareciam umas moços com uns saquinhos debalas e roupas. Tinha uma que já me conhecia, me dava sempre dois pacotinhos em lugar de um. A madrinha. Um dia, me deu sapato, um casaquinho de malhae uma camisa.
  - Por que ela não ficou com você?
  - Ela disse uma vez que ia me levar, ela disse. Depois, não sei por que ela não apareceu mais...
  Deixou cair na caçarola a batata já fria. E ficou em silêncio, as mãos abertas em torno a vasilha. Apertou os olhos. Deles, irradiou-se para todo o rosto uma expressão dura. Dois anos seguidos esperou por ela. Pois não prometera levá-lo? Não prometera? Nem lhe sabia o nome, não sabia nada a seu respeito, era apenas " a madrinha". Intilmente a preocurava entre as moças que apareciam no fim do ano com os pacotes de pesentes. Inutilmente cantava mais alto do que todos no fim da festa, quando então se reunia aos meninos da capela. Ah, se ela pudesse ouvi-lo!
                           
                                "... O bom jesus é quem nos traz
                                A mensagem de amor e alegria"...

- Também é muita responsabilidade tirar crianças para criar! - disse Leduína desamarrando o avental. - Já chega os que a gente tem...
  Alonso baixou o olhar. E de repente sua fisionomia iluminou-se. Puxou o cachorro pelo rabo. Riu-se:
  -Eh, Biruta! Está com fome, Biruta? Seu vagabundo! Vagabundo!... Sabe, Leduína, Biruta também vai ganhar um presente que está escondido lá debaixo do meu travesseiro. Com aquele dinheirinho que você me deu, lembra? Comprei uma bolinha de borracha, uma beleza de bola! Agora dele não vai precisar mais morder suas coisas, tem a bolinha só pra isso. Ele não vai mais mexer em nda, sabe, Ledeuína?
  - Hoje cedo ele não esteve no quarto da dona Zulu?
  O menino empalideceu.
  - Só se foi na hora em que fui lavar o automóvel... Por que Leduína? Por quê? Que foi que aconteceu?
  Ela hesitou. E encolheu os ombros.
  - Nada. Perguntei à toa.
  A porta abriu-se bruscamente e a patroa apareceu. Alonso encolheu-se um pouco. Sondou a fisionomia da mulher. Mas ela estava sorridente. O menino sorriu também.
- Ainda não foi pra sua festa, Leduína? - perguntou a moça num tom afável. Abotoava os punhos do vestido de renda. - Pensei que você já estivesse saído... - E antes que a empregada respondesse, ela voltou-se para Alonso: - Então? Preparando seu jantarzinho?
  O menino baixou a cabeça. Quando ela lhe falava assim mansamente, ele não sabia o que dizer.
  - O Biruta está limpo, não está? - Prosseguiu a mulher, inclinando-se para fazer uma carícia na cabeça do cachorro. Biruta baixou as orelhas, ganiu dolorido e escondeu-se debaixo do fogão.
  Alonso tentou encobrir-lhe a fuga:
  - Biruta, Biruta! Cachorro mais bobo, deu agora de se esconder... - Voltou-se para a patroa. E sorriu desculpando-se: - Até de mim ele se esconde.
  A mulher passou mão no ombro do menino:
  - Vou a uma festa onde tem um menino assim do seu tamanho. Ele adora cachorros. Então me lembrei de levar o Biruta emprestado só por esta noite. O pequeno está doente, vai ficar radiante, o pobrezinho. Você empresta seu Biruta só por hoje, não emnpresta? O automóvel ja está na porta. Ponha ele lá que já estamos de saída.
  O rosto do menino resplandeceu num sorriso. Mas então era isso?!... Dona Zulu pedido o Biruta emprestado, precisando do Biruta!... Abriu a boca para dizer-lhe que sim, que o Biruta estava limpinho, e que ficaria contente de emprestá-lo para o menino doente, estava muito contente com isso... Mas sem dar-lhe tempo de responder, a mulher saiu apressadamente da cozinha.
  - Viu, Biruta? Você vai numa festal - exclamou Alonso, beijando repetidas vêzes o focinho do cachorro. - Você vai numa festa, seu sem-vergonha! Numa festa com crianças, com doces. com tudo! Mas pelo amor de Deus, tenha juizo, nada de desordens! Se você se comportar, amanhã cedinho te dou uma coisa. Vou te esperar acordado, hem? Tem um presente no seu sapato ... - acrescentou num sussurro, com a boca encostada na orelha do cachorro. Apertou-lhe a pata. - Te espero acordado, Biru ... Mas não demore muito!
  O patrão já estava na direção do carro. Alonso aproximou-se.
  - O Biruta, doutor...
  O homem voltou-se ligeiramente. Baixou os olhos.
  - Está bem, está bem. Pode deixá-lo ai atrás.
  Alonso ainda beijou furtivamente o focinho do cachorro. Em seguida, fêz·lhe uma última carícia, colocou-o no assento do automóvel e afastou-se correndo.
  - Biruta vai adorar a festa! - exclamou assim que entrou na cozinha. - E lá tem doces, tem crianças, ele não quer outra coisa! - Fez uma pausa. Sentou-se. - Hoje tem festa em teda parte, não, Leduina?
  A mulher já se preparava para sair.
- Decerto.
  Alonso pôs-se a mastigar pensativamente.
  - Foi hoje que Nossa Senhora fugiu no burrinho?
  - Não, menino. Foi hoje que Jesus nasceu. Depois então é
que aquele rei manda prender os três.
  Alonso concentrou-se, apreensivo:
  - Sabe, Leduina, se algum rei malvado quisesse matar o Biruta, eu me escondia com ele no meio do mato e ficava morando lá a vida inteira, só nós dois!... - Riu-se metendo uma batata na boca. E de repente ficou sério, ouvindo o ruido do carro que já saia. - Dona Zulu estava linda, não?
  - Estava.
  - E tão boazinha também. Você não achou que hoje ela estava boazinha?
  - Estava, estava muito boazinha, sim... - concordou a empregada. E riu-se.
  - Por que você está rindo?
  - Nada - respondeu ela pegando a sacola. Dirigiu-se à porta. Mas antes, parecia querer dizer qualquer coisa de desagradável e por isso hesitava, contraindo a boca.
  Alonso observou-a. E julgou adivinhar o que a preocupava.
  - Sabe, Leduína, você não precisa dizer para Dona Zulu que ele mordeu sua carteirinha, eu já falei com ele, já surrei ele, ele não vai fazer mais isso nunca mais, eu prometo que não.
  A mulher voltou-se para o menino. Pela primeira vez encarou-o. E após vacilar ainda um instante, decidiu-se:
  - Olha aqui, se êles gostam de enganar os outros, eu não gosto, entendeu? Ela mentiu para você, Biruta não vai mais voltar.
  - Não vai o quê? - perguntou Alonso pondo a caçarola em cima da mesa. Engoliu com dificuldade o pedaço de batata que ainda tinha na boca e levantou-se. - Não vai o quê, Leduína?
  - Não vai mais voltar. Hoje cedo ele foi no quarto dela e rasgou um pé de meia que estava no chão. Ela ficou daquele jeito. Mas não te disse nada e agora de tardinha, enquanto você lavava a louça, escutei toda a conversa dela com o doutor: que não queria mais esse vira-lata, que ele tinha que ir embora hoje mesmo, e mais isso, e mais aquilo... O doutor pediu para ela esperar, que amanhã dava um jeito, você ia sentir muito, hoje era Natal... Não adiantou. Vão soltar o cachorro bem longe daqui e depois seguem para a festa. Amanhã ela vinha dizer que o cachorro fugiu da casa do tal menino. Mas eu não gosto dessa história de enganar os outros, não gosto. É melhor que você fique sabendo desde já, o Biruta não vai voltar.
  Alonso fixou na mulher o olhar inexpressivo. Abriu a boca.
A voz era um sopro quase inaudível:
  - Não? ..
  Ela perturbou-se.
  - Que gente também! - explodiu. Bateu desajeitadamente no ombro do menino. - Não se importe, não, filho. Vai, vai jantar...
  Ele deixou cair os braços ao longo do corpo. E arrastando os pés, num andar de velho, foi saindo para o quintal. Dirigiu­se à garagem. A porta de ferro estava erguida. A luz do luar, uma luz branca e fria, chegava até a borda do colchão desmantelado.
  Alonso cravou os olhos brilhantes e secos num pedaço de osso roído, meio encoberto sob um rasgão do lençol. Ajoelhou­se. E estendeu a mão tateante. Tirou debaixo do travesseiro uma bola de borracha.
  - Biruta - chamou baixinho. - Biruta... - repetiu. E desta vez só os lábios se moveram e não saiu som algum.
  Muito tempo ele ficou ali ajoelhado, imóvel, segurando a bola.
Depois apertou-a fortemente contra o peito, como se quisesse enterrá-la no coração.
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Conto extraído de: TELLES, Lygia Fagundes. Histórias escolhidas. São Paulo: Boa Leitura Editora, 1961.