“Não falamos português, falamos
brasileiro!”, diz Eni P. Orlandi, autora do livro Língua
Brasileira e Outras Histórias. A autora tem também um artigo
publicado intitulado Língua
Portuguesa, na revista Ciência e
Cultura. Nele, a autora afirma que a dúvida sobre qual idioma nós falamos é
antiga! Segundo ela, “esta é uma questão que se coloca desde os princípios da
colonização no Brasil”.
“A língua brasileira, ou o português no
Brasil, não é apenas uma contextualização do português de Portugal; ela é uma
historicização singular, efeito da instauração de um espaço-tempo particular
diferente do de Portugal. Espaço-tempo que se caracteriza pela forte unidade da
língua brasileira na representação do imaginário nacional. Em países de
colonização, como o Brasil, dá-se o processo do que chamamos heterogeneidade
linguística pelo qual a língua funciona em uma identidade dupla. Desse modo,
línguas que são consideradas as mesmas, porque se historicizam de maneiras diferentes
em sua relação com a formação dos países, são línguas diferentes. Ou seja,
falamos a ‘mesma’ língua, no caso do português do Brasil e o de Portugal, mas
falamos diferente.” (Fonte: Enciclopédia das Línguas no Brasil)
Para Orlandi, a língua brasileira é tão
diferente da portuguesa quanto o latim é do português. A Revista Galileu de outubro dá alguns exemplos das
diferenças entre a “mesma língua”! Quem for assinante pode ler a matéria aqui, se não for seu caso,
aqui vão alguns exemplos:
Tempos
Compostos
A preferência nacional é por tempos construídos com dois verbos, enquanto o português prefere os tempos simples
Brasileiro – “Vai passar nessa avenida um samba popular”
Português – “Passará nessa avenida um samba popular”
A preferência nacional é por tempos construídos com dois verbos, enquanto o português prefere os tempos simples
Brasileiro – “Vai passar nessa avenida um samba popular”
Português – “Passará nessa avenida um samba popular”
Topicalização
Em terras brasileiras, costumamos repetir parte das frases de maneiras diferentes
Brasileiro – “O menino, ele saiu depressa”
Português – “O menino saiu depressa”
Em terras brasileiras, costumamos repetir parte das frases de maneiras diferentes
Brasileiro – “O menino, ele saiu depressa”
Português – “O menino saiu depressa”
Gerúndio
Nós preferimos dizer no gerúndio, e o português, no infinitivo
Brasileiro – “Às vezes no silêncio da noite, eu fico imaginando nós dois”
Português – “Às vezes no silêncio da noite, eu fico a imaginar nós dois”
Nós preferimos dizer no gerúndio, e o português, no infinitivo
Brasileiro – “Às vezes no silêncio da noite, eu fico imaginando nós dois”
Português – “Às vezes no silêncio da noite, eu fico a imaginar nós dois”
Discurso
O jeito de pensar, construir as frases e os significados é diferente entre brasileiro e português
Brasileiro – “A coxinha acabou”
Português – “Temos coxinha, mas acabou”
O jeito de pensar, construir as frases e os significados é diferente entre brasileiro e português
Brasileiro – “A coxinha acabou”
Português – “Temos coxinha, mas acabou”
Pronomes
O brasileiro gosta de colocar o pronome antes do verbo e o português, depois
Brasileiro – “Deixa disso, camarada, me dá um cigarro”
Português – “Deixa disso, camarada, dê-me um cigarro”
O brasileiro gosta de colocar o pronome antes do verbo e o português, depois
Brasileiro – “Deixa disso, camarada, me dá um cigarro”
Português – “Deixa disso, camarada, dê-me um cigarro”
Significados
E as duas línguas tem a mesma palavra, mas com definições diferentes
Brasileiro: Bizarro (com o sentido de esquisito, com aspecto estranho)
Português: Bizarro (com o sentido de bem equipado, bem-apessoado)
E as duas línguas tem a mesma palavra, mas com definições diferentes
Brasileiro: Bizarro (com o sentido de esquisito, com aspecto estranho)
Português: Bizarro (com o sentido de bem equipado, bem-apessoado)
Segundo a revista, não chega a ser um
problema essas diferenças, “é apenas o nosso jeito de falar”.
Porém, em alguns casos chega a ser
engraçado. Por exemplo, se esse blog estiver sendo lido por um português, e eu
escrever que é melhor que ele tome uma pic* no c*, ele vai procurar um médico.
Se for um brasileiro, vai entender porque eu coloquei esses asteriscos no meio!
Referências:
CARDOSO, Bruno. Língua
Brasileira?. In: portal: O
jornalista.com. O jornalista: Brasil, 2009.
ORLANDI, Eni. P. Língua Brasileira apud Português. In: ELB Labeurb. Unicamp:
Campinas, 2010. <http://www.labeurb.unicamp.br/elb/portugues/lingua_brasileira.html>
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