segunda-feira, 20 de junho de 2011

Brasileiro, a língua do futuro

BRASILEIRO, A LÍNGUA DO FUTURO.

ARANTES, Alessandro de Oliveira (UERN/NAESM)

1. INTRODUÇÃO

A linguagem brasileira como conhecemos hoje, ainda é chamada de portuguesa, por causa das burocracias e imposições da elite nacional, como sabemos, ainda não existe uma legítima língua brasileira independente, sem levar o nome "portuguesa", e sim "brasileira".

Em nosso país falamos em sua maioria, a língua portuguesa, variante padrão brasileira, que é bem diferente da variedade européia, tanto em termos semânticos, quanto fonológicos e ortográficos. Com a implantação do Novo Acordo Ortográfico, as sociedades lusófonas tiveram que se adaptar a essas novas adequações, também em nosso país, há indivíduos que falam outras línguas diferentes das usuais, como o caso do guarani, falado na fronteira com o Paraguai, algumas línguas neo-germânicas no sul do Brasil, na Amazônia, inúmeras línguas indígenas, e nas diferentes regiões e interiores do país, as chamadas variantes linguísticas.

2. AS VARIANTES REGIONAIS E DIALETAIS CONTRASTES E CONFLITOS

As Variantes Linguísticas ou de registro são assim denominadas, por serem diferentes pronúncias, escritas, vocabulários e comportamentos adquiridos e que marcam a identidade de uma região ou população, às vezes indivíduos falantes de um determinado dialeto não entente algumas palavras ou termos de outro; isso é que chamamos no país de diversidade linguística, muitas vezes tratadas por gramáticos e críticos da linguagem como "erro", e deturpação linguística, o que no âmbito da linguística, especificamente, a sociológica, define que o que comumente chamamos de "erro", nada mais é que a manifestação do fenômeno linguístico chamado de dialetação, onde a linguagem em seu estado real, se adapta a realidade e a sociedade que dela usufruem identificando a sociedade onde ela é usada, ou seja, a linguagem dialetal identifica determinado grupo social, através dos usos da linguagem comuns a região ou sociedade em que esse indivíduo convive, nada mais é que a transformação que a linguagem sofre, e mostra a naturalidade da evolução da língua.

3. COEXISTENCIA LINGUÍSTICA BRASILEIRA

No Brasil existem mais de 11 variantes regionais, e mais de 20 sub-regionais, além dos jargões e gírias comumente difundidas e usadas no cotidiano social. As variantes mais difundidas na mídia televisiva, são as variantes: fluminense, que se divide em duas, o "carioca" e o "fluminense" variedades usadas no Rio de Janeiro, além das variantes "caipira interiorano" e "paulistana" no caso de São Paulo e "caipira goiano" ou "sertanejo" em Goiás, e a variedade "pampa" ou "gaúcha" comumente difundida no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e influenciada pelas línguas neo-germânicas e dialetos falados na Argentina e Uruguai.

Também existem dialetos não muito conhecidos no país, mas que fazem parte de muitos brasileiros espalhados por esse país continente, são eles: o dialeto "mineiro" conhecido também como "uái sô", também o gaúcho "tchê", e também o dialeto "pantaneiro", falado na região oeste e sul do Mato Grosso do Sul, também o dialeto "potiguar ou norte rio-grandense", o "paraíba", "recifense", em Pernambuco, o "baiano", o "candango", no Distrito Federal, também a variante "cearense", a variedade "capixaba", no Espírito Santo e a "amazônica" nos estados da região norte, e a "paraense" no Pará, também há a sub-variedades existentes, como o caso dos jargões médicos, policiais, bombeirenses, políticas, marginalizadas, criminosas, entre outras mais.

4. IDEAIS DE UMA LÍNGUA BRASILEIRA

O termo Lingua Brasileira foi usada pela primeira vez por Antônio Cândido (1960), também écitada por Orlandi (2005), onde ele questiona que embora a cultura escolar se queira, muitas vezes, esclarecedora em sua racionalidade e moderna em sua abertura, acaba sempre se curvando à legitimidade da língua portuguesa que herdamos e, segundo dizem, adaptamos às nossas conveniências, mas que permanece em sua forma dominante inalterada, intocada: a língua portuguesa. E quem não a fala, ainda que esteja no Brasil, que seja brasileiro, erra, é um mal falante, um marginal da língua (ORLANDI, 2005).

Também nessa perspectiva, então, falamos decididamente a língua brasileira, pois é isto que atesta a materialidade lingüístico-histórica. Se, empiricamente, podemos dizer que as diferenças são algumas, de sotaque, de contornos sintáticos, de uma lista lexical, no entanto, do ponto de vista discursivo, no modo como a língua se historiciza, as diferenças são incomensuráveis: falamos diferente, produzimos diferentes discursividades (ORLANDI, 2005).

Destacamos este exemplo para mostrar como nós, indivíduos e cidadãos brasileiros, iríamos escrever se a língua brasileira fosse realmente outorgada como língua oficial e com uma gramática independente e física.

Excerto 1: Comunicado de uma Secretaria, transcrito em língua brasileira.

COMUÑIKÁDU

Segui in anécsu u comuñikádu prá divugassão dus cúrsu di ene ree dez. Na verdadi a aula inaguráu ki pogramamus prá terssa fêra 21 será apêna comu palestra prá divugá prus alunu u konogama, u seja, us dia, locál e orárius. Eça aula inagruráu dever a ser dia 21, devidida na siguinti fórma, Báxa du mêi di tardi í Gaamaé à noíti. Pra qui náda dê erradu, é íprecindíveu qui as pessoa qui istivérim fazeno as iscrição na sequetária ìm Gaamaé, bêim komu ***** em Báxa du Mêi, avisi a us iscritus us oráriu dais aula inagrurá e loká.

Sujestãum prá aula inagrurá dìya 21(terssa-fêra)

Báxa du Mêi: 15:00

Locá: Cêntru di Ifomátika

Gaamaé: 19:00

Locá: Iscóla Muincipáu

Obs: U pessoá da sequetária, naum pódi iskecêr-si di infomá êstis orárius ì us locáiz.

(ARANTES, 2011)

Nesse excerto, nota-se marcas de usos linguísticos fonéticos, o que mostra que a fonética ou a forma da pronúncia das palavras, de forma real, facilitaria e muito a vida dos brasileiros, por eles estarem tão acostumados com o padrão que eles aprenderam a vida toda, e por isso os afeta quando eles tem que usar palavras e linguajares de uma outra língua, a portuguesa; o que deixam eles com muitas dificuldades de assimilar as regras ortográficas impostas pela gramática tradicional.

5 . IMPLICÂNCIAS GRAMATICAIS E AS VARIANTES

Muitos gramáticos consideram como "erro", a inadequação ortográfica, seja ela falada ou escrita, que foge da regra pré-estabelecida nas gramáticas normativas da língua portuguesa. Isso faz com que haja um maior interesse em saber, pelo menos no meio acadêmico, de saber por que os brasileiros tem tanta dificuldade em apreender e compreender a língua portuguesa na escola? e também por que eles não conseguem por em prática os conceitos ensinados na escola?

Segundo Orlandi (2005), A língua praticada deste lado do Atlântico, possui a relação unidade/variedade: a unidade já não refere o português do Brasil ao de Portugal, mas à unidade e às variedades existentes no Brasil. O que nos remonta a mudança que a língua falada no Brasil está passando, cada vez mais está havendo um distanciamento entre as linguagens, enquanto a variedade padrão brasileira, vem a cada ano evoluindo, incorporando novos vocábulos, a variedade padrão europeia, praticamente não evoluiu, salvo a incorporação de palavras oriundas de outras línguas europeias, africanas ou até mesmo do Brasil, com a implantação do Acordo Ortográfico, onde se unificou a forma escrita da língua portuguesa.

E a unidade do português do Brasil, referido a seu funcionamento historicamente determinado, é marca de sua singularidade. Há um giro no regime de universalidade da língua portuguesa que passa a ter sua própria referência no Brasil. A variação não tem como referência Portugal, mas a diversidade concreta produzida no Brasil, na convivência de povos de línguas diferentes, línguas indígenas, africanas, de imigração etc (ORLANDI, 2005).

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por fim, a língua brasileira em si existe, mas ainda não possui uma gramática própria, essa linguagem existe ainda na forma falada, tendo que ainda ser subordinada a ortografia e a gramática da língua portuguesa. No caso de Portugal, o mirandês [1] foi reconhecido como a segunda língua nacional, sendo de origem asturo-leonesa, essa língua não possui vertente portuguesa, sendo ela originária de um troco hispânico.

Diferentemente da língua brasileira, que continuará coexistindo com o português brasileiro, em Portugal, a língua mirandesa já é ensinada nas escolas como uma língua minoritária, e por questões tradicionais, ensina-se nas escolas para que os alunos portugueses conheçam a língua, e também que ela possa ser usada em alguns locais onde ela existe. No caso do Brasil, essa língua dificilmente será ensinada nas escolas, vemos, por exemplo, o caso do tupi, uma língua nacional que foi praticamente esquecida, e nunca passou a ser ensinada nas escolas, por conta da burocracia da elite dominante, que tinha como descendência, portugueses em sua maioria, e eles tinham que manter as raízes portuguesas na linguagem e em tudo que eles impunham a sociedade.

Finalizamos dizendo que o brasileiro é um povo que merece sim ser reconhecido pela sua identidade linguística e diversidade cultural, mas sem se prender a que denominamos de um tipo de contrassenso, chamarmos a nossa linguagem de “língua portuguesa”, que ainda nos prende a nossos irmãos portugueses, nós brasileiros sentiríamos mais orgulho de dizer que somos brasileiros, se dissermos que falamos “língua brasileira”, sem desmerecer a língua portuguesa que nos deu base para formar essa diversidade linguística, existente em nossas terras, mas gostaríamos sim de ver num futuro bem próximo, o brasileiro sendo falado em nosso país livremente, sem preconceitos e sem imposições da elite mesquinha de nossa pátria, e sendo exportada para além-mar conforme a evolução linguística e humana de nosso povo e do mundo em que vivemos.

Certamente, a linguagem brasileira, coexistirá com a portuguesa durante muitas décadas, enquanto o poder elitista ainda perdurar nas mãos dos descendentes de portugueses, burgueses e representantes da elite intelectual que ainda não compreende que a diversidade cultural no país favorece o desenvolvimento dessa linguagem, as mídias comumente mostram a realidade nas diferentes regiões do país, e consigo revela traços e marcas da linguagem típicas de um determinado grupo regional, mostrando-nos quão grande potencial linguístico nosso Brasil guarda, os grandes veículos informativos, como a televisão, fazem uso dessas linguagens, sem que eles reconheçam as mesmas como marca cultural daquela região em que ela pertence; enfim, vemos que muitos pesquisadores brasileiros e estrangeiros se interessam pela temática dos conflitos linguísticos existentes no Brasil, e que eles nos dão uma grande contribuição para elucidar como essa linguagem aprisionada em seu povo, ainda não pode se expandir e alcançar o status de língua pátria e língua popular, por causa do viés burocrático e gramaticista nacional, que insiste em difundir uma língua que a cada dia está se tornando complicadíssima e conflituosa, mas que ainda nos será de valia para alcançarmos status de país globalizado e desenvolvido, enquanto a brasileira, ainda será vista como uma língua marginalizada, mau vista pela sociedade e potencionalmente prejudicial às grandes mídias imperialistas que ainda nos manipulam e impõem suas modas e visões.


[1] O Mirandês é uma língua falada na região de Miranda do D’ouro em Portugal.

7. REFERÊNCIAS

ORLANDI, Eni P. Língua Brasileira. Ciencia e Cultura. vol.57 no.2 São Paulo Apr./June 2005. Disponível em: <http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252005000200016&script=sci_arttext> ISSN 0009-6725



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