terça-feira, 7 de dezembro de 2010

AS POESIAS DE MANUEL BANDEIRA NUMA PERSPECTIVA BAKHTINIANA.

AS POESIAS DE MANUEL BANDEIRA NUMA PERSPECTIVA BAKHTINIANA.

Alessandro de Oliveira Arantes (NAESM/UERN)*

Francisco Canindé Martins (NAESM/UERN)*

Francisca Elitânia Bezerra de Araújo (NAESM/UERN)*

RESUMO

O presente trabalho busca verificar como se aplica a teoria do dialogismo, que foi proposta por Bakhtin, para explicar alguns fenômenos linguísticos, presentes em muitas poesias, especificamente, analisaremos as de Manuel Bandeira. Nesses textos notável a apropriação do discurso alheio, por parte do sujeito, para elaboração da enunciação própria, que é muito comum nas poesias que retratam algo ou fato ocorrido. Ainda verificamos como esses conceitos bakhtiniano, possibilitam a formação de enunciados, que subsidiam as intenções do locutor, refletem as emoções, valores, paixões, e, por isso nunca são neutros. Observamos que o dialogismo está presente quando o discurso individual perpassa o discurso alheio, e busca nesses últimos subsídios para elaboração do seu próprio. Além disso, reflete o “olhar” do autor, que denota sua ideologia e sua perspectiva do dado social. Apontamos de que forma aparece o dialogismo nas poesias do poeta, e também uma comparação feita com elementos da realidade, para comprovar os conceitos aplicados durante a análise. Por fim mostraremos a visão do autor acerca de determinados assuntos, que são pouco explorados pelos autores.

PALAVRAS-CHAVE: Leitura. Poemas. Dialogismo. Cotidiano. Enunciados. teoria, perspectiva.

METODOLOGIA

Análise dos poemas de Bandeira, seguindo conceitos sobre o dialogismo, segundo a perspectiva adotada por Bakhtin, e aplicando-o nos poemas, para comprovar a aplicabilidade dessas teorias e conceitos nos poemas e nos textos literários.

INTRODUÇÃO

Neste presente trabalho, verificaremos como se aplica a teoria do dialogismo, que foi proposta por Bakhtin, para explicar alguns fenômenos linguísticos, presentes em muitas poesias. Também iremos perceber que o dialogismo está presente é notável a apropriação do discurso alheio, por parte do sujeito, para elaboração da enunciação própria, que é muito comum nas poesias que retratam algo ou fato ocorrido.

Também possibilitam a formação de enunciados, que auxiliam as intenções do locutor, refletem as emoções, valores, paixões, nunca são neutros. Eles interagem com a realidade, por isso são dialógicos.

PERSPECTIVA BAKHTINIANA - O DIALOGISMO

Quando um linguista delimita um diálogo, mostrando como um diálogo perspassa o outro, o mesmo instaura uma apropriação do discurso alheio, por parte do sujeito, para elaboração da enunciação própria, segundo Bakhtin (1998) “a orientação dialógica é naturalmente um fenômeno próprio a todo o discurso [...] [o discurso] se encontra com o discurso de outrem e não pode deixar de participar, com ele, de uma interação viva e tensa”.

Possibilita a formação de enunciados, que subsidiam as intenções do locutor, refratam as emoções, valores, paixões, nunca são neutros. Eles interagem com a realidade, por isso são dialógicos. O autor busca dados comuns da humanidade, para inspirar as suas obras, a partir de um fato ocorrido ou provocado.

A teoria de Bakhtin contempla situações em que a palavra adquire diferentes representações de acordo com a situação comunicativa. Dessa forma o sujeito semantiza a lingua dependendo do evento enunciativo. “O centro de gravidade da língua não reside na conformidade à norma da forma utilizada, mas na nova significação que essa forma adquire no contexto” (BAKHTIN, 1988:92).

Também o autor transmite além de noções e conceitos, seu enunciado transfere para seus leitores uma comunicação expressiva, afinal o poeta produz arte e esta é imbuída de valores e ideologias. “A palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial” (BAKHTIN, 1988:95).

O dialogismo está presente quando o discurso individual perpassa o discurso alheio, e busca nesses últimos subsídios para elaboração do seu próprio; além disso, reflete o “olhar” do autor, que denota sua ideologia e sua perspectiva do dado social, e é neste aspecto que se verifica a relação existente entre a linguagem e a vida.

DIALOGISMO ENCONTRADO NAS POESIAS DE BANDEIRA

Nas poesias de Manuel Bandeira, é notável a presença de elementos dialógicos, que mostram que o texto, no caso especificamente, as poesias, elas se refletem as emoções, os valores, as paixões, e, portanto nunca são neutros. Por eles interagirem com a realidade, por isso são chamados de textos dialógicos. O autor busca dados comuns da humanidade, para inspirar as suas obras, a partir de um fato ocorrido ou provocado. A partir daí, pode-se notar no poema a seguir alguns desses elementos presentes:




Quando estás vestida,
Ninguém imagina
Os mundos que escondes
Sob as tuas roupas.

(Assim, quando é dia,
Não temos noção
Dos astros que luzem
No profundo céu.

Mas a noite é nua,
E, nua na noite,
Palpitam teus mundos
E os mundos da noite.

Brilham teus joelhos,
Brilha o teu umbigo,
Brilha toda a tua
Lira abdominal.

Teus exíguos
- Como na rijeza
Do tronco robusto
Dois frutos pequenos -

Brilham.) Ah, teus seios!
Teus duros mamilos!
Teu dorso! Teus flancos!
Ah, tuas espáduas!

Se nua, teus olhos
Ficam nus também:
Teu olhar, mais longe,
Mais lento, mais líquido.

Então, dentro deles,
Bóio, nado, salto
Baixo num mergulho
Perpendicular.

Baixo até o mais fundo
De teu ser, lá on de
Me sorri tu'alma
Nua, nua, nua...



Neste presente poema é notável a comparação que o autor faz com a questão da nudez feminina escondida por trás das roupas, com o céu noturno. Que também é nú, por não haver nenhum tipo de coberta que permita que não seja observado o brilho e a sua beleza. Fazendo uma comparação com o corpo de uma mulher, exaltando o brilho e a beleza do corpo, e associando em seus pensamentos, como o oceano, onde ele pode mergulhar profundamente para descobrir o ser referido por ele.

Também o enunciado contruído pelo autor, transfere para seus leitores uma comunicação expressiva, afinal o poeta produz arte e esta é persuadida de valores e ideologias. “A palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial” (BAKHTIN, 1988:95).

Também é notável a presença de elementos dialógicos no poema a seguir, onde voce nota um discurso individual perpassando um discurso alheio, e transformado em poesia. E permitiu apartir do que foi apropriada, a elaboração do seu próprio discurso, só que transformado em arte. Também, além disso, reflete a visão do autor, que indica sua ideologia e sua perspectiva sobre o fato social.

Namorados

O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
-Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com sua cara.
A moça olhou de lado e esperou.
-Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê uma lagarta listrada?
A moça se lembrava:
-A gente fica olhando...
A meninice brincou de novo nos olhos dela.
O rapaz prosseguiu com muita doçura:
-Antônia, você parece uma lagarta listrada.
A moça arregalou os olhos, fez exclamações.
O rapaz concluiu:
-Antônia, você é engraçada! Você parece louca.

COMPARAÇÃO ENTRE AS POESIAS E SITUAÇÕES COTIDIANAS

Também temos que levar em consideração nessas poesias, a comparação e a associação a algo cotidiano. Segundo Bakhtin (1988). “A palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial”. Seguindo essa perspectiva, é notável também a presença de um sentido ideológico na poesia abaixo, pois o autor faz uma comparação entre tipos de mulheres, pois para ele as mulheres não são tão lindas quanto o vestido, e no final faz uma comparação com um fato corriqueiro do cotidiano das grandes cidades.

Mulheres

Como as mulheres são lindas!
Inútil pensar que é do vestido...
E depois não há só as bonitas:
Há também as simpáticas.
E as feias, certas feias em cujos olhos vejo isto:
Uma menininha que é batida e pisada e nunca sai da cozinha.

Como deve ser bom gostar de uma feia!
O meu amor porém não tem bondade alguma.
É fraco! Fraco!
Meu Deus, eu amo como as criancinhas...

És linda como uma história da carochinha...
E eu preciso de ti como precisava de mamãe e papai
(No tempo em que pensava que os ladrões moravam no morro atrás de casa e tinham cara de pau)

A VISÃO DO AUTOR PARA COM UM FATO COTIDIANO

Nos poemas a seguir, notaremos a presença de elementos que mostram a visão que o autor adquiriu a partir da observação de situações cotidianas. Também é possível notar no primeiro poema, que o autor retrata o fato de forma que passa a impressão de que o autor estava passando por um período de alucinação ou loucura temporária, que pode se notar no poema abaixo:

Satélite

Fim de tarde.
No céu plúmbeo
A lua baça
Paira.

Muito cosmograficamente
Satélite.

Desmetaforizada,
Desmitificada,

Despojada do velho segredo de melancolia,
Não é agora o golfão de cismas,
O astro dos loucos e enamorados,
Mas tão somente
Satélite.

Ah! Lua deste fim de tarde,
Desmissionária de atribuições românticas;
Sem show para as disponibilidades sentimentais!

Fatigado de mais-valia,
gosto de ti, assim:
Coisa em si,
-Satélite.

No segundo poema abaixo, é notável, o escracho com que ele trata de um fato difícil de ser tratada, a relação sexual, detalhando de forma às vezes metafórica, como se passa este acontecimento. Segundo a teoria de Bakhtin, estas duas poesias contemplam situações em que a palavra adquire diferentes representações de acordo com a situação comunicativa. Dessa forma o sujeito semantiza a lingua dependendo do evento enunciativo. O que pode ser notado no poema abaixo:

A Cópula

Depois de lhe beijar meticulosamente
o cu, que é uma pimenta, a boceta, que é um doce,
o moço exibe à moça a bagagem que trouxe:
culhões e membro, um membro enorme e turgescente.

Ela toma-o na boca e morde-o. Incontinenti,
Não pode ele conter-se, e, de um jacto, esporrou-se.
Não desarmou porém. Antes, mais rijo, alteou-se
E fodeu-a. Ela geme, ela peida, ela sente

Que vai morrer: - "Eu morro! Ai, não queres que eu morra?!"
Grita para o rapaz que aceso como um diabo,
arde em cio e tesão na amorosa gangorra

E titilando-a nos mamilos e no rabo
(que depois irá ter sua ração de porra),
lhe enfia cona adentro o mangalho até o cabo.

CONCLUSÃO

Diante dos fatos apresentados e analisados, podemos concluir que, o dialogismo proposto por Bakhtin realmente pode ser aplicado não somente para explicar os discursos oriundos de textos ou fontes midiáticas, também concluímos que pode ser usada também para entender e aplicar os conceitos na análise de textos literários, especificamente nesse trabalho, analisamos os poemas de Manuel Bandeira, seguindo a perspectiva do dialogismo, para entender como foi possível para o autor associar e retratar a realidade em suas poesias e poemas diversos.

Por fim, esse campo de análise dialógica é bem amplo, e com a ajuda dele entendemos algumas coisas que não são levadas em consideração durante a leitura ou análise textual, a de como ele conseguiu retratar o fato que está sendo contado, também como ele associa o fato descrito no texto com algo corriqueiro e que as pessoas não retratam, por questões ideológicas.

REFERÊNCIAS:

BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. Tradução Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. 8ª Ed. São Paulo: Huitec, 1997.

FIORIN, José Luiz. Introdução ao pensamento de Bakhtin. São Paulo: Ática, 1996.

FLORES, Valdir do Nascimento; TEIXEIRA, Marlene. O dialogismo: Mikhail Bakhtin. In:___.Introdução à linguística da Enunciação. São Paulo: Contexto, 2008. P.45.

ORLANDI, Eni Pulcinelli. Linguagem e método: uma questão da análise do discurso. In: Discurso e leitura. São Paulo: Cortez, 2008. P.35-40.

Poesias extraidas do Site: www.pensador.info/manuel_bandeira_poesias/

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