Numa noite qualquer...
(inspirado no conto de Clarice Lispector; Ruídos e Passos)
O pai vê a filha se esfregando no travesseiro. Ele acende a luz do quarto e diz num tom repressor: - Quê isso, menina?.
A menina responde: - Nada, só tô com dor de barriga.
O pai acreditou. Era boa filha.
Numa noite qualquer, o marido vê a mulher se esfregando no travesseiro. Ele acende a luz do quarto e fala num tom repressor: - Quê isso, mulher?.
A mulher responde: - Nada , só tô com dor de barriga.
O marido acreditou. Era boa esposa.
Numa noite qualquer, o filho vê a mãe se esfregando no travesseiro. Ele acende a luz do quarto e fala num tom repressor: - Quê isso, mãe?-.
A mãe responde: - Nada, só tô com dor de barriga.
O filho acreditou. Era boa mãe.
Numa noite qualquer, o neto vê a avó se esfregando no travesseiro. Ele acende a luz do quarto e fala num tom repressor: - Que isso, vó? O que está fazendo?.
A avó reponde: - Nada, só tô com dor de barriga.
O neto acreditou. Era boa avó.
Eles foram os quatros homens de sua vida, ela fez tudo por eles. Foi boa filha, boa esposa, boa mãe e boa avó. Mas, em alguns momentos, sentia-se incompleta.
Fonte: http://www.bestiario.com.br/10_arquivos/contos%20curtos.html
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