segunda-feira, 22 de junho de 2009

BOCA DO INFERNO



Gregório de Matos, é historicamente, o primeiro grande poeta do Brasil. Sua obra, talvez a mais importante produzida pelo Barroco poético da América portuguesa e espanhola, conserva ainda hoje boa parte do seu interesse, por força, sobretudo, da agudeza e do vigor com que o Poeta soube fixar satiricamente, numa linguagem vivaz que já deixa transparecer o genius loci na exploração de sonoridades africanas e tupis e que, na sua mordacidade feroz, não recua nem diante da pornografia, a dissolução de costumes na Bahia do século XVII.

Poesia

Ardor em firme coração nascido;
Pranto por belos olhos derramado;
Incêndio em mares de água disfarçado;
Rio de neve em fogo convertido:

Tu, que em um peito abrasas escondido;
Tu, que em um rosto corres desatado;
Quando fogo, em cristais aprisionado;
Quando cristal em chamas derretido.

Se és fogo como passas brandamente,
Se és neve, como queimas com porfia?
Mas ai, que andou Amor em ti prudente!

Pois para temperar a tirania,
Como quis que aqui fosse a neve ardente,
Permitiu parecesse a chama fria.

Gregório de Matos

Fonte: Poemas Escolhidos/Ed. Cultrix.

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