sábado, 28 de agosto de 2010

A origem popular de certas expressões brasileiras

Quando se trata da linguagem informal, percebemos que certas expressões já se incorporaram ao vocabulário dos falantes, parece tudo tão automático, que muitas vezes as proferimos sem ao menos entendermos o verdadeiro significado. Mas que tal sabermos a origem das mesmas, a fim de que possamos enriquecer nossos conhecimentos sobre a linguagem? Remontando aos tempos pré-modernos, havia uma expressão muito usual entre os casais que queriam sentir-se mais à vontade sem que ninguém estivesse segurando a vela. Pois bem, esta expressão “Segurar Vela” remonta um passado bastante histórico. Quando não existiam lâmpadas, a principal fonte de luz eram as velas. Não era hábito incomum, na época, os trabalhadores braçais as segurarem para que seu senhor enxergasse o que estava fazendo. Nos recintos abertos ao público à noite, como teatros, meninos acendiam e seguravam velas para iluminar o palco. Em obscuros tempos medievais, um criado da casa tinha singular e discreta obrigação: a de segurar um candeeiro para iluminar as relações sexuais dos patrões, entretanto, o criados deveria ficar de costas para não ver os folguedos e, assim não invadir a privacidade do casal - embora pudesse escutar gemidos e grunhidos, sons da própria alcova. O grotesco procedimento caiu em desuso, obviamente, após a invenção da eletricidade. Caso fôssemos associar esta expressão à modernidade atual, ela certamente se restringiria ao universo das gírias, como sendo aquela pessoa que não é bem aceita, que “embaça” a convivência. Outra expressão é Vira-Lata - que retrata aquele cachorro sem pedigree, o mais baixo representante da raça canina, que vive na rua revirando lixo a procura de comida, sem ter ninguém que se interesse por ele. Por volta da década de 40, Carlito Rocha, então presidente do Botafogo - Rio, encantou-se com um vira-lata malhado de preto e branco, as cores do alvinegro carioca. Ele transformou Biriba no mascote do clube,e a lenda conta que o animal ajudou o time a levantar o título de 1948, com só uma derrota - para o São Cristóvão, por 4X0, logo no primeiro jogo do campeonato. Pode ser lenda, mas tem pessoas que acreditam... Coroa - É um termo jocoso atribuído a pessoas com mais de 40 anos. Mas a expressão vem do latim corona, círculo, roda. Em termos físicos, é o ornamento de formato circular usado sobre a cabeça como símbolo de poder e legitimidade - até mesmo em concursos de beleza. É a tonsura circular usada por sacerdotes na parte superior da cabeça, o círculo luminoso que se forma ao redor do Sol ou da Lua em decorrência da modificação da luz na atmosfera úmida. A parte do dente revestida de esmalte, o arranjo floral sobre o túmulo e o ornamento que arremata o topo de um edifício, seu coroamento. Perceberam quantas acepções? Porém, nenhuma analogia com a figura humana com mais de 40anos, não é mesmo?
Por Vânia Duarte

Concretismo

O Concretismo surge na Europa, por volta de 1917, na tentativa de se criar uma manifestação abstrata da arte. A busca dos artistas era incorporar a arte (música, poesia, artes plásticas) às estruturas matemáticas geométricas.
A intenção deste movimento concreto era desvincular o mundo artístico do natural e distinguir forma de conteúdo. Para os concretistas a arte é autônoma e a sua forma remete às da realidade, logo, as poesias, por exemplo, estão cada vez mais próximas das formas arquitetônicas ou esculturais. As artes visuais não figurativas começam a ser mais evidentes, a fim de mostrar que no mundo há uma realidade palpável, a qual pode ser observada de diferentes ângulos.
Por volta de 1950, a concepção plástica da arte chega ao Brasil através do suíço Max Bill: artista, arquiteto, designer gráfico e de interiores. Bill é o responsável por popularizar as concepções da linguagem plástica no Brasil com a Exposição Nacional de Arte Concreta, em 1956. As características gerais do concretismo na literatura são: o banimento do verso, o aproveitamento do espaço do papel, a valorização do conteúdo sonoro e visual, possibilidade de diversas leituras através de diferentes ângulos.

Por Sabrina Vilarinho

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Analisando músicas - Parte 1

Análise #1 - Cenário da música: Atoladinha

Nesta letra a seguir notaremos algumas peculiaridades presentes no corpus do texto, a primeira diz respeito à forma de comunicação entre indivíduos daquela região onde a mesma foi composta, a segunda diz respeito à maneira de organização frasal. Nota-se na mesma uma tipo de organização textual semelhante a um conto, ou seja, uma estória contada de forma agradável. Pensando nisso, destaquei uma música que foi o maior sucesso no ano de 2004, que é o clássico do Funk carioca: " Atoladinha", que escolhi não por acaso para analisar, mas por haver elementos interessantes no mesmo.
Primeiramente, inicio com a análise lexical para encontrar palavras de sentido duvidoso ou desconhecido, também palavras onde se faz presente marcas de regionalismos ou gíria urbana, encontradas nas seguintes palavras:
foguenta, rolé, mó solzão, Piririn, piririn, piririn.
Segundo, inicio a análise do sentido de algumas frases do texto, No seguinte fragmento veremos a situação que a pessoa que responde a pergunta dá uma impressão duvidosa na sua resposta, ou seja, abre uma série de possibilidades de sentido para entender essa frase. Vejamos o texto, que se repete duas vezes:
Vai me enterrar na areia?
Não, não, vou atolar (2x)
Tô ficando atoladinha (3x)
Calma,calma foguentinha

Na primeira marcação, notei uma seguinte duplicidade, a primeira é uma pergunta que se abre, quem vai enterrar na areia?, com que ele vai enterrar? como vai fazer isso?; na segunda, nota-se um palavra de múltiplos sentidos, atolar na gíria pode ter vários sentidos, o principal é o sentido sexual, e o segundo é o sentido de prender ou segurar, o que pode dar uma primeira pista sobre o sentido da frase.
No final da estrofe, nota-se que o discurso muda de sentido, e gera ainda mais perguntas, como ela está ficando atoladinha? quem está provocando isso? como isso está acontecendo?, após isso fecha-se o pensamento com a seguinte frase: Calma,calma foguentinha, mudando completamente o foco, mas a palavra final foguentinha resume todo o pensamento, de que eles estavam mesmo se atolando, ou seja, se preparando para o coito.
Finalizo esta análise com o seguinte fragmento:
Piririm, piririm, piririm, Alguém ligou pra mim,Quem é? Sou eu, Bola de Fogo
Aí pergunto, neste caso trata-se de uma representação do toque do telefone, ou de uma figura de linguagem usada para mascarar algo que já estava ocorrendo?, Mas o mais duvidoso é a resposta após o toque, que pode dar pistas sobre o sentido da mesma. Como foi que ela soube quem foi que ligou? e na mesma hora diz quem é sem saber quem foi que ligou ou que estava ligando?
A pista que comprova a segunda dúvida levantada é a seguinte: Alguém ligou, mostrando que ela não sabia quem estava ligando, mas na hora ela pensava que era alguma outra pessoa, e em um determinado momento ela atendeu e reconheceu a pessoa que ela pensava ou sabia que estava ligando.
Mas no início da música revela tudo, Quem tá falando? Sou eu Bola De Fogo...e aê tá de bobeira hoje? Tô...
Comprovando o seguinte pensamento, que ela já sabia quem tinha ligado, mas não lembrava quem era, e estava esperando a pessoa ligar novamente.
Por fim concluo esta análise mostrando que ao voce analisar uma música, voce deve levar em consideração primeiro o ambiente em que ela se passa, pois através dele voce terá pistas que levem a uma compreensão do sentido da mesma, ou seja, do que ela quer dizer ou retratar; segundo do vocabulário usado no texto; terceiro, da organização textual; quarto, do sentido das frases ou estrofes; e por último a questão da finalidade do texto, não deixando de levar em consideração a questão do cenário em que isso ocorre, como ocorre, e qual impacto ele produzirá nesse cenário.

Mais a frente segue o texto na íntegra para eventual análise, ou mas questionamentos.

Atoladinha (Bola de Fogo) Composição: Mc Sandrinho

Alô?
Qual é foguenta?
Quem tá falando?
Sou eu Bola De Fogo...e aê tá de bobeira hoje?
Tô...
Vamu dá um rolé na praia, mó solzão praia da Barra...
Já é..
Então vou ai te buscar,valeu?
Valeu...
Então...Fui!!!

Piririn, piririn, piririn
Alguém ligou pra mim
Piririn, piririn, piririn
Alguém ligou pra mim
Quem é?
Sou eu, Bola de Fogo
E o calor tá de matar
Vai ser na praia da Barra
Que uma moda eu vou lançar
Vai me enterrar na areia?
Não, não, vou atolar
Vai me enterrar na areia?
Não, não, vou atolar
Tô ficando atoladinha
Tô ficando atoladinha
Tô ficando atoladinha
Calma,calma foguentinha

Piririm, piririm, piririm
Alguém ligou pra mim
Piririm, piririm, piririm
Alguém ligou pra mim
Quem é?
Sou eu, Bola de Fogo
E o calor tá de matar
Vai ser na praia da Barra
Que uma moda eu vou lançar
Vai me enterrar na areia?
Não, não, vou atolar
Vai me enterrar na areia?
Não, não, vou atolar

Tô ficando atoladinha
Tô ficando atoladinha
Tô ficando atoladinha
Calma, calma foguentinha
[4x]

By Alessandro Arantes

domingo, 15 de agosto de 2010

Vinicius de Moraes

Poética

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.

A rosa de Hiroxima



Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.

Soneto de intimidade

Nas tardes de fazenda há muito azul demais.
Eu saio às vezes, sigo pelo pasto, agora
Mastigando um capim, o peito nu de fora
No pijama irreal de há três anos atrás.

Desço o rio no vau dos pequenos canais
Para ir beber na fonte a água fria e sonora
E se encontro no mato o rubro de uma amora
Vou cuspindo-lhe o sangue em torno dos currais.

Fico ali respirando o cheiro bom do estrume
Entre as vacas e os bois que me olham sem ciúme
E quando por acaso uma mijada ferve

Seguida de um olhar não sem malícia e verve
Nós todos, animais, sem comoção nenhuma
Mijamos em comum numa festa de espuma.

Por toda minha vida

Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida, eu vou te amar
Em cada despedida, eu vou te amar
Desesperadamente
Eu sei que vou te amar

E cada verso meu será
Pra te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida

Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua, eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta tua ausência me causou

Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
À espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida


Murilo Mendes

INDICAÇÃO

Sim: o abismo oval atrai meus pés.
Leopardo familiar, a manhã se aproxima.
Preciso conhecer em que universo estou
E a que translações de estrelas me destinam.
Em três épocas me observo sustentado:
Na pré-história, no presente e no futuro.
Trago sempre comigo uma morte de bolso.
Assalta-me continuamente o novo enigma
E uma audácia imprevista me pressinto.

Arrasto minha cruz aos solavancos,
Tal qual profunda mulher amada e odiada,
Sabendo que ela condiciona minha forma:
E o tempo do demônio me respira.
Gentilíssima dama eternidade
Escondida nas raízes do meu ser,
Campo de concentração onde se dança,
Beatitude cortada de fuzilamentos...
Retiram-me o véu que sei de mim.
Ontem sou, hoje serei, amanhã fui.

A MÃE DO PRIMEIRO FILHO

Carmem fica matutando
no seu corpo já passado.

— Até à volta, meu seio
De mil novecentos e doze.
Adeus, minha perna linda
De mil novecentos e quinze.
Quando eu estava no colégio
Meu corpo era bem diferente.
Quando acabei o namoro
Meu corpo era bem diferente.
Quando um dia me casei
Meu corpo era bem diferente.
Nunca mais eu hei de ver
Meus quadris do ano passado...

A tarde já madurou
E Carmem fica pensando.

O homem, a luta e a eternidade


Adivinho nos planos da consciência
dois arcanjos lutando com esferas e pensamentos
mundo de planetas em fogo
vertigem
desequilíbrio de forças,
matéria em convulsão ardendo pra se definir.
Ó alma que não conhece todas as suas possibilidades,
o mundo ainda é pequeno pra te encher.
Abala as colunas da realidade,
desperta os ritmos que estão dormindo.
À guerra! Olha os arcanjos se esfacelando!


Um dia a morte devolverá meu corpo,
minha cabeça devolverá meus pensamentos ruins
meus olhos verão a luz da perfeição
e não haverá mais tempo.